Aumentando ainda mais a imprevisibilidade em torno das eleições gerais, as pesquisas de intenção de voto na Alemanha mostram que o partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, passou à frente da União Cristã Democrata (CDU), de Angela Merkel, pela primeira vez em 15 anos.
As eleições gerais acontecem no dia 26 de setembro e, segundo dados divulgados na terça-feira 24 pelo instituto Forsa, o SPD, na figura de Olaf Scholz, atual ministro das Finanças, lidera as intenções de voto com 23%. A CDU ficaria um pouco atrás, com 22%.
A troca de posição representa a primeira vez que o Social Democrata lidera pesquisas de opinião no país desde outubro de 2006 e é o índice mais baixo para a CDU desde que o instituto de pesquisas foi criado, em 1984.
O Partido Verde ficou em terceiro lugar, com 18%. As pesquisas também indicam que o Alternativa para a Alemanha (AfD), da extrema-direita, teria 10% dos votos.
Às vésperas de encerrar o mandato como chanceler da Alemanha, depois de 16 anos e quatro vitórias seguidas, era esperado que Merkel não tivesse grandes problemas para nomear um sucessor. As eleições estaduais de março, no entanto, estremeceram os planos, após a CDU registrar os piores resultados de sua história nos estados de Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado, considerados bastiões da legenda.
O nome da legenda, o jornalista Armin Laschet, saiu vitorioso em uma dura disputa pelo comando do partido, mas tem sido criticado duramente pela gestão da pandemia de Covid-19 no estado de Renânia do Norte-Vestfália. Além disso, também foi alvo de críticas após ser visto rindo em uma entrevista à imprensa durante enchentes que atingiram a região no mês passado.
Os desastres naturais, por sua vez, deram força a Scholz, candidato do SPD, que fez com que a popularidade do partido aumentasse com duras críticas à gestão. As chuvas torrenciais no mês passado resultaram em quase 200 mortes e centenas de feridos, à medida que enchentes devastaram casas, comércios e plantações.
A tendência de crescimento de popularidade tem gerado inclusive manchetes no país. “Hoje, Olaf Scholz como chanceler federal é um cenário muito realista”, estampa a revista Der Spiegel.
Após as derrotas em março, o secretário-geral da CDU, Paul Ziemiak, mesmo admitindo que os resultados foram decepcionantes, procurou atribuir a derrota ao “sucesso pessoal” dos candidatos eleitos, do Partido Verde e do Partido Social-Democrata.
A legenda governista ainda é a maior no país, mas caso mantenham sucesso, os dois partidos podem optar por fazer uma coalizão entre si e o Partido Liberal Democrático (FDP). A aliança entre os dois grupos de centro-esquerda e o de centro-direita já é apelidada de “coalizão do semáforo”, devido às suas cores.
“Os 16 anos de Merkel e sua incorporação de políticas de centro-esquerda no ambiente conservador, como a recepção de refugiados, contribuíram para a fragmentação da política alemã”, diz Chantal Sullivan-Thomsett, do Grupo de Especialistas em Política Alemã da Universidade de Leeds, na Inglaterra. “Junto à insatisfação, eleitores têm opções.”