O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que enfrenta um grande movimento de protesto nas ruas desde sua reeleição em agosto, prestou juramento nesta quarta-feira, 23, para dar início ao seu sexto mandato, em uma cerimônia mantida em sigilo.
Durante a manhã, veículos de comunicação independentes e plataformas da oposição já haviam mencionado a possibilidade do evento formal, depois que o cortejo presidencial foi observado percorrendo a cidade em alta velocidade. A principal avenida de Minsk foi fechada ao público e um grande dispositivo policial foi mobilizado ao redor da sede presidencial.
A confirmação, no entanto, foi feita pela agência estatal de notícias Belta, seguida pelo site da Presidência.
“Alexander Lukashenko prestou juramento no idioma bielorrusso, depois assinou o documento e a presidente da Comissão Eleitoral entregou o certificado de presidente da República de Belarus”, anunciou a agência.
De acordo com a Belta, Lukashenko expressou “orgulho” no discurso de posse.
ASSINE VEJA
Clique e Assine“Não escolhemos apenas um presidente, defendemos nossos valores, a vida em paz, a soberania e a independência”, disse o presidente. Ele também afirmou que o país resistiu a uma “revolução colorida”, nome atribuído na antiga república soviética aos movimentos populares que expulsaram do poder regimes autoritários desde o início dos anos 2000 na Ucrânia, Geórgia e Quirguistão. Para a Rússia e Lukashenko, as revoltas foram apoiadas pelo Ocidente.
“Nosso Estado enfrentava um desafio sem precedentes, mas estamos entre os únicos, se não somos os únicos, onde a ‘revolução colorida’ não funcionou. Esta é a decisão dos bielorrussos, que não queriam a perdição de seu país”, completou.
Para os opositores e a imprensa independente, a cerimônia, que deveria acontecer até 9 de outubro, foi organizada em sigilo para não virar um novo catalisador de uma grande manifestação. Mais de 440 pessoas foram presas no domingo 20 em manifestações em todo o país. Apenas na capital, Minsk, cerca de 50.000 pessoas foram às ruas
Desde as eleições presidenciais em 9 de agosto, que reelegeram o presidente com supostamente 80% – o que gerou acusações de fraude – marchas contra Lukashenko ocorrem todos os domingos. A polícia é acusada de truculência e perseguição, sendo que o uso de agentes sem uniformes para prender manifestantes se tornou prática do governo. ONGs de direitos humanos acusam o governo de uso excessivo de força e de torturas.
Lukashenko, por sua vez, cita um plano apoiado por potências estrangeiras para desestabilizar a Bielorrússia. No poder desde 1994, fazendo com que seja conhecido como “o último ditador da Europa”, ele afirma que os manifestantes são criminosos e desempregados.
O ministro das Relações Exteriores da Lituânia, país que abriga opositores bielorrussos e que Lukashenko acusa de conspiração, ironizou a cerimônia. Entre os opositores está Svetlana Tikhanovskaya, candidata que enfrentou o presidente nas urnas e que afirma que o resultado é fraudulento.
“Que farsa! Eleições fraudulentas, posse fraudulenta”, tuitou o ministro lituano Linas Linkevicius.
O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, reiterou que o país não reconhece Lukashenko “por falta de legitimidade democrática”, já que “não foram cumpridas as exigências mínimas para as eleições democráticas”.
Apesar de disposto a compartilhar o poder com outras lideranças políticas, para o presidente, novas eleições não vão ocorrer “até que me matem”. Segundo a agência estatal de notícias Belta, Lukashenko anunciou em meados de agosto que poderia entregar o poder após um referendo sobre possíveis mudanças na Constituição. Segundo ele, as mudanças já estão em andamento, mas não aconteceram sob pressão.
Em 2001, na primeira reeleição de Lukashenko, a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), entidade internacional que fiscaliza eleições no continente europeu. denunciou “falhas fundamentais” no processo eleitoral, entre elas censura da mídia. A Bielorrússia ocupa a 153ª posição, entre 180 países, no ranking de liberdade de imprensa feito pela organização Repórteres sem Fronteiras.
Casos de intimidação a opositores e de bloqueios arbitrários de candidaturas já aconteciam em 2001, segundo a OSCE. Nas últimas eleições parlamentares, em 2019, fiscais da OSCE relataram urnas fraudadas e, em alguns casos, foram explicitamente impedidos de checá-las. Na ocasião, todos os 110 assentos da câmara baixa do Parlamento foram conquistados por apoiadores de Lukashenko.