Apesar de ter conseguido uma importante vitória política ao conquistar apoio da maioria ao megaprojeto de lei conhecido como “lei Omnibus”, o governo de Javier Milei convocará sessão na Câmara dos Deputados apenas na semana que vem. A decisão, anunciada nesta quarta-feira, 24, se dá em meio às negociações com blocos da oposição para evitar que vários artigos centrais sejam vetados.
Alguns deputados mais alinhados à direita, que admitem a possibilidade de aprovar uma proposta semelhante, receberam na semana passada uma nova ementa que altera os pontos mais polêmicos, entre eles o que confere poderes excepcionais ao presidente. Um dos principais é a duração da medida. Milei queria que ela valesse por dois anos, prorrogados por mais dois, ou seja, o presidente poderia passar todo o mandato tendo o direito a legislar com prerrogativas excepcionais. Agora, o governo admite a possibilidade de fazê-lo por apenas um ano, prorrogável por mais um.
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Ao todo, cem dos 664 artigos do pacote já sofreram alterações, uma manobra que revela a resistência que a classe política tinha em conceder poderes tão amplos ao presidente, em início de governo. A perspectiva mais realista da situação vem depois de o porta-voz do governo, Manuel Adorni, afirmar que a lei não seria negociada.
Entre os outros pontos que foram alterados está o fim da obrigatoriedade de privatizar a petroleira YPF e a retirada do artigo que determinava que a reunião de mais de três pessoas em espaço público seria considerada uma manifestação e necessita de autorização do ministério da segurança para ocorrer.
Greve Geral
A apresentação da lei Omnibus (para todos, em latim) levou a principal central sindical da Argentina, CGT, de orientação peronista, a convocar uma greve geral nesta quarta-feira, 24. Segundo a CGT, os protestos reuniram 1,5 milhão de pessoas em todo o país, incluindo 350.000 só na capital, Buenos Aires. O governo, por sua vez, diz que apenas 40.000 pessoas se juntaram na cidade.
Apesar de postos de controle, tensões foram sentidas, principalmente em Buenos Aires. Diferentes centrais sindicais, trabalhadores da saúde e funcionários públicos se juntaram à paralisação.
A mobilização pode ser sentida até no Brasil. As companhias aéreas Gol e Latam cancelaram e adiaram voos para o país vizinho nesta quarta-feira, já que a Associação de Pessoal Aeronáutico (APA) prometeu parar da 0h à 0h (o que também afeta viagens internas). Além disso, estão marcadas manifestações e panelaços em frente a embaixadas e consulados da Argentina em Brasília (10h), Porto Alegre (13h) e São Paulo (17h), bem como no Uruguai, França, Espanha, Alemanha e Bélgica.
Em publicação nas redes sociais, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, chamou os organizadores da greve de “mafiosos” e afirmou que são “sindicalistas, gerentes da pobreza, juízes cúmplices e políticos corruptos, todos defendendo seus privilégios”.