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Se quiser, Israel poderia destruir Gaza em apenas uma hora

Cônsul israelense em SP afirma não ser a destruição o objetivo de seu país e culpa o Hamas pelos 60 palestinos mortos pelas forças de Israel

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 16 Maio 2018, 15h11 - Publicado em 16 Maio 2018, 13h08
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  • “Israel poderia destruir a Faixa de Gaza em apenas uma hora. Mas não o faz porque esse não é seu objetivo”, declarou a VEJA o cônsul-geral israelense em São Paulo, Dori Goren, ao explicar a reação violenta do Exército de seu país aos protestos de palestinos na Faixa de Gaza na última segunda-feira. O resultado foi a morte de 60 pessoas. Outros 2.700 palestinos ficaram feridos.

    Goren ecoou o discurso oficial do governo de Israel para o episódio, que provocou condenações da comunidade internacional, em particular dos países árabes e/ou muçulmanos. Afirmou que a culpa pelas mortes não devem ser atribuídas ao governo de Israel, mas ao Hamas, grupo militar convertido em partido político que governa Gaza desde 2006. O jornal israelense The Jerusalem Post publicou hoje que 50 dos 60 mortos seriam membros do Hamas.

    “Culpamos o Hamas, cujo objetivo era motivar os palestinos a derrubar a cerca (da fronteira), invadir Israel para matar os judeus”, afirmou Goren. “Israel jamais permitiria que isso acontecesse”.

    Os palestinos foram mortos e feridos dentro do território de Gaza. Segundo Goren, aviões israelenses haviam soltado panfletos dias antes para advertir os palestinos a não avançarem na faixa de 300 metros da cerca que divide os dois países. Senão, “sofreriam as consequências”. O Hamas, em sua opinião, os “empurrou” para essa margem e os expôs à artilharia de Israel.

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    “O Hamas age de forma cínica. Aquilo não era uma manifestação pacífica. O objetivo do Hamas era conquistar a simpatia dos meios de comunicação do mundo inteiro para com as vítimas palestinas”, afirmou.

    Goren reconheceu ser “lamentável” cada vida perdida nesse episódio. Não houve baixas entre as tropas israelenses, atacadas com pedras arremessadas de Gaza e com a fumaça de pneus queimados. Mas o diplomata assegura que os manifestantes palestinos estariam munidos de explosivos – o que até o momento não foi confirmado por nenhum organismo independente.

    Para ele, não havia outro método a ser aplicado para conter aquela multidão de 40 mil pessoas, teoricamente dispostas a invadir Israel, senão a artilharia e o gás lacrimogênio. “Israel usou meio mortal porque, quando milhares de pessoas tentam atacar sua população, não há outra tecnologia para dissuadi-la”, afirmou.

    O diplomata argumentou que o Hamas esperava reunir entre 100 mil a 200 mil pessoas nos protestos de segunda-feira, o dia em que os palestinos relembram a Nakba (catástrofe, em árabe). Mas compareceram cerca de 40 mil.

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    A Nakba refere-se à independência de Israel e à consequente guerra entre israelenses e árabes, que forçou o deslocamento de 750 mil palestinos de suas casas e cidades. Hoje, esse contingente soma 6 milhões de pessoas distribuídas especialmente nos países vizinhos, nos territórios palestinos e em Israel.

    Ontem, os protestos não se repetiram com a mesma força, segundo Goren, por causa da pressão do governo de Egito sobre o Hamas. Também é certo que parte da população acompanhava os funerais das vítimas de segunda-feira e que a resposta mortal de Israel dissuadiu novas manifestações.

    Reações internacionais

    Goren considera uma “hipocrisia desproporcional” a reação de países árabes, da Turquia e de outras nações à atitude das tropas israelenses diante das manifestações palestinas na Faixa de Gaza. Turquia e Israel estão em franca crise diplomática desde então. Os árabes, por meio do Kuwait, apresentaram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma proposta de resolução para a proteção dos civis palestinos.

    Para o diplomata, os países árabes têm se mostrado historicamente muito mais violentos contra sua própria população do que Israel em relação aos palestinos. Ele mencionou especificamente a morte de milhares de opositores ao regime de Hafez al-Assad na Síria pelas forças do governo nos anos 80. Os turcos, continuou Goren, dizimaram centenas de curdos.

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    “Quem são os turcos para questionarem o nosso comportamento? Não vi os árabes apelando ao Conselho de Segurança quando Hafez al-Assad matou sírios”, reagiu.

    Em seu ponto de vista, o episódio de segunda feira e as acusações de Israel de continuidade do programa nuclear iraniano não impõem riscos para a segurança de seu país. Mas reiterou que o governo israelense não permitirá a instalação de uma base iraniana na Síria em região próxima à fronteira com Israel – a razão, segundo ele, para o bombardeio israelense ao território sírio no último dia 10 – nem o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã.

    “Do ponto de vista estratégico, Israel continua muito forte”, afirmou.

    Ameaças

    O cônsul-geral de Israel em São Paulo rebateu declarações a VEJA do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, de que seu país não teria cumprido os acordos de paz anteriores nem se empenhado por novas negociações. Para Goren, não há interlocutor para as negociações de paz do lado palestino e, enquanto não houver um acordo de paz efetivo, não será possível para Israel abandonar suas posições nos territórios palestinos.

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    “Israel sempre quis fazer concessões, mas Abbas e Arafat nunca quiseram assinar os acordos”, disse, referindo-se Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLA) e da Autoridade Palestina ao longo de quase 35 anos. “Queremos a paz, mas a nossa tragédia é não termos com quem falar.”

    Goren afirmou ainda ter esperança de que seus futuros netos não tenham de lutar em uma guerra. Ele mesmo lutou na Guerra do Yom  Kippur, de 1973. Seu pai lutou na Guerra Árabe-Israelense, de 1948, e seu filho, no conflito na Faixa de Gaza, em 2014.

     

     

     

     

     

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