Rússia e Ucrânia se reuniram nesta quinta-feira, 10, na Turquia, para discutir o conflito entre os dois países e tentar chegar a um acordo de cessar-fogo, mas sem sucesso. Fizeram parte do encontro os ministros das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, e da Rússia, Sergei Lavrov. A reunião aconteceu na província de Antália, no sul da Turquia. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, esperava que a reunião entre Lavrov e Kuleba abrisse a “porta para um cessar-fogo permanente”.
Após a reunião, o ministro ucraniano afirmou que não houve progresso para se chegar a um cessar-fogo durante o encontro com o russo. Kuleba disse que a Ucrânia não vai se render e que a lista de demandas de Lavrov é, na verdade, uma exigência de rendição. O chanceler da Ucrânia ressaltou ainda que não foi fácil ouvir o russo, que, segundo ele, seguiu com a retórica tradicional durante o encontro. Apesar disso, Kuleba pontuou que está pronto para outros encontros no mesmo formato.
As exigências russas foram explicitadas na segunda-feira, quando o porta-voz Dmitry Peskov listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militares na Ucrânia. Em entrevista à agência Reuters, Peskov disse que o Kremlin exige que Kiev encerre sua ação militar, mude sua Constituição para a neutralidade, de modo que o país garanta que jamais irá fazer parte da Otan ou da União Europeia, e reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, além de enxergar a Crimeia como um território russo.
Moscou chama sua incursão de “operação militar especial” para desarmar a Ucrânia e desalojar líderes que chama de “neonazistas”. Kiev e seus aliados ocidentais dizem que se trata de um pretexto para uma guerra não provocada contra um país democrático de 44 milhões de pessoas.
Após o encontro desta quinta-feira, Lavrov acusou o Ocidente de se comportar de forma perigosa por fornecer armas para a Ucrânia.
“Aqueles que entregam armas aos ucranianos e mercenários precisam entender o perigo”, disse. Segundo o russo, o governo ucraniano planejou um ataque às regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, apoiadas pelo governo Putin.
O chanceler da Rússia disse ainda que o hospital em Mariupol, bombardeado na quarta-feira, ‘está sob controle de radicais ucranianos’ e que não havia pacientes lá, o que contraria imagens divulgadas pela Ucrânia.
Em um vídeo transmitido em seu canal no Telegram, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ainda que as tropas russas “passaram dos limites” ao atacar a maternidade em Mariupol. Ao menos 17 pessoas teriam se ferido na tragédia, que o chefe de Estado classificou como uma “atrocidade”.
A REUNIÃO
“Direi francamente que minhas expectativas em relação às negociações são baixas”, disse Kuleba em um comunicado em vídeo na quarta-feira. “Estamos interessados em um cessar-fogo, liberando nossos territórios, e o terceiro ponto é resolver todas as questões humanitárias.”
A Turquia, que é membro da Otan, se ofereceu para mediar o encontro após semanas de tentativas frustradas. As delegações dos dois países realizaram três rodadas de negociações anteriormente, duas na Belarus e uma na Ucrânia.
Na segunda-feira, 7, representantes russos e ucranianos se encontraram para a terceira rodada de negociações. Após dois encontros na semana passada que renderam entendimentos escassos para proteção de civis, a terceira rodada de conversas terminou com “pequenos desenvolvimentos positivos”, segundo um representante ucraniano. Apesar do tom mais positivo, a implementação de corredores humanitários, que têm objetivo de facilitar a retirada de civis e a entrada de itens básicos como remédios, tem se mostrado difícil em cidades afetadas pela guerra.
Tentativas de retirada de civis fracassaram durante o fim de semana e foram interrompidas na segunda e terça-feira por acusações de violações ao cessar-fogo.
A Rússia acusa nacionalistas ucranianos de impedir a saída de civis de regiões combinadas, usando a população como ‘escudo humano’. “Devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou de estender o cessar-fogo, as operações ofensivas foram retomadas”, disse o major-general Igor Konashenkov, na segunda-feira.
As autoridades da cidade de Mariupol, por sua vez, disseram que a retirada de civis foi adiada porque militares russos não estariam respeitando a trégua. As prefeituras de Mariupol e Volnovakha disseram que as cidades são alvos de bloqueios e ataques russos, impedindo a saída segura dos civis. Mesmo após o acordo, a Ucrânia vinha alegando desrespeito dos russos ao acordo com as regiões sendo alvos de constantes ataques. As duas cidades foram as únicas autorizadas a funcionar como um corredor de fuga para os civis.
A Organização das Nações Unidas elevou na quarta-feira o número de mortes na Ucrânia para 516 civis, incluindo 37 crianças. Os números reais desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, no entanto, podem ser “consideravelmente maiores”, já que relatórios de autoridades locais costumam ser enviados com certo atraso. A maioria das mortes, segundo a organização, foi causada por armas explosivas, incluindo bombardeios, mísseis e ataques aéreos.