Rússia acusa soldados britânicos de participarem da guerra na Ucrânia
Ligação vazada entre oficiais da Força Aérea da Alemanha foi amplamente criticada por Moscou
Uma ligação vazada entre oficiais da Força Aérea da Alemanha revelou que soldados britânicos estão “no terreno” da Ucrânia para auxiliar no disparo de mísseis de longo alcance Storm Shadow contra a Rússia. A conversa foi divulgada nesta sexta-feira, 1, por Margarita Simonyan, editora do canal de notícias RT, controlado pelo Kremlin, e foi confirmada por Berlim. Acredita-se o telefonema tenha sido hackeado por agentes russos que o repassaram à jornalista para que o conteúdo fosse publicado no Telegram.
A gravação mostra uma discussão entre oficiais da Luftwaffe sobre como os mísseis Taurus, fabricados por Berlim, poderiam ser empregados para explodir a ponte de Kerch, que liga a Rússia à península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Durante a discussão de 38 minutos, o chefe da Força Aérea alemã, Ingo Gerhartz, cita a operação de tropas britânicas no campo de batalha contra Moscou.
“Quando se trata de planejamento de missão, sei como os ingleses fazem isso”, afirmou Gerhartz. “Eles fazem isso completamente em reachback. Eles também têm algumas pessoas no terreno, eles fazem isso, os franceses não”.
O termo militar reachback faz referência a como a inteligência, o equipamento e o apoio da retaguarda são transmitidos às unidades na linha de frente. O tenente-general, no entanto, sugere que a abordagem britânica é ainda mais avançada por envolver soldados nos pontos de embate.
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Declaração de Scholz
A cogitação dos oficiais sobre a potencial utilização dos mísseis Taurus contraria uma declaração anterior do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. Na última segunda-feira, ele anunciou que não enviaria remessas do equipamento à Ucrânia porque exigiria que militares alemães, mesmo que à distância, estivessem envolvidos “na forma de controle de alvos e acompanhamento do controle de alvos”.
Como consequência, explicou Scholz, a doação colocaria Berlim em risco de se tornar “participante na guerra” e defendeu que “os soldados alemães não podem, em nenhum momento e em nenhum lugar, estar ligados aos alvos que este sistema [o Taurus] atinge”.
No telefonema, realizado às vésperas de uma reunião entre Gerhartz e o ministro da defesa da Alemanha, Boris Pistorius, os quatro oficiais alemães tentam encontrar caminhos para contornar a decisão de Scholz. Eles também reclamam que um jornalista alemão foi informado que os mísseis não eram tão eficazes, com chances de que a descoberta fosse repassada rapidamente ao chanceler. Estima-se que o Taurus tenha um alcance máximo maior do que o Storm Shadow e o Scalp.
O grupo concluiu, então, que uma entrega rápida e a utilização imediata dos mísseis só seriam possíveis a partir da participação de soldados alemães. Houve, ainda, a ideia de fornecer treinamento às tropas de Kiev, mas a sugestão levaria meses de preparação.
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Rússia x Reino Unido
Em resposta ao episódio, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as conversas vazadas “mais uma vez destacam o envolvimento direto do Ocidente coletivo no conflito na Ucrânia”. Pistorius, por sua vez, rebateu e acusou Moscou de travar “uma guerra de informação”.
A presença britânica, no entanto, tornou-se conhecida na última terça-feira, quando a Grã-Bretanha confirmou a presença de um “pequeno número de pessoal” na Ucrânia. Em entrevista à BBC, o ex-ministro da Defesa do Reino Unido, Tobias Ellwood, ponderou que o vazamento é constrangedor para a Alemanha, mas contrapôs que a Rússia já deveria ter conhecimento da informação, devido aos seus sofisticados esquemas de espionagem.