Robert E. Lee estava no epicentro dos conflitos violentos que atingiram Charlottesville, na Virgínia, no final de semana. A prefeitura da cidade aprovou em fevereiro a retirada da estátua do general que comandou o exército dos Estados Confederados americanos nos anos de 1860. Desde então, uma série de protestos contra a remoção liderados pela extrema direita vem causando tensão nos Estados Unidos.
Lee chefiou as forças que lutavam a favor dos Estados Confederados americanos, uma nação autoproclamada de 11 estados escravistas, durante a Guerra Civil, entre 1862 e 1865. O general era conhecido por suas táticas agressivas de batalha, que deixaram enormes números de mortos durante o conflito.
O militar também é lembrado atualmente como um símbolo do racismo e do passado escravocrata americano. Documentos históricos remontam a crueldade de Lee com seus próprios escravos, herdados por ele após a morte de seu sogro, George Washington Parke Custis, um dos maiores donos de escravos da época e neto do primeiro presidente dos EUA, George Washington.
Após a Guerra Civil, o militar chegou a se arrepender e escreveu algumas cartas argumentando que a escravidão era “um mal político e moral”. Também intercedeu a favor da união dos estados americanos e defendeu que a nação progredisse no sentido contrário dos ideais amparados durante o conflito que acabou em 1865.
Ainda assim, é comum, especialmente no sul dos Estados Unidos, encontrar escolas, avenidas e estátuas em homenagem ao general, considerado por alguns um herói da Guerra Civil. Existem cerca de 718 monumentos que exaltam as figuras mais importantes e principais momentos dos Estados Confederados, segundo o Southern Poverty Law Center, um centro de estudo com foco em organizações extremistas americanas. Há também 109 escolas nomeadas em homenagem a Lee, ao presidente dos Confederados Jefferson Davis ou a outras figuras sulistas.
Esses personagens históricos, assim como a bandeira dos Estados Confederados, são utilizados por grupos extremistas racistas e nacionalistas como símbolos de saudação ao passado escravocrata americano. Por isso a decisão recente da prefeitura de Charlottesville em remover a estátua de Lee e renomear o parque onde ela foi erguida.
A medida, no entanto, causou revolta de alguns grupos de extrema direita de supremacia branca e neonazistas, que organizaram várias manifestações contra a retirada do monumento. No último sábado, uma dessas marchas entrou em conflito com grupos antifascistas e de luta por direitos negros, causando a morte de uma mulher e deixando outras 19 feridas.
Desde então, líderes municipais de cidades americanas têm intensificado seus esforços para a remoção de estátuas confederadas de suas cidades, entre elas figuras de membros da organização Ku Klux Klan. Na madrugada desta quarta-feira, quatro monumentos foram recolhidos discretamente em Baltimore, no leste do país, a fim de evitar conflito.
Autoridades de Lexington, no Kentucky, Memphis, no Tennessee, e Jacksonville, na Flórida, também anunciaram suas intenções de levar adiante planos de retirada dos símbolos confederados, em resposta ao debate nacional recém-retomado que questiona os símbolos como uma herança de ódio e racismo.