Uma reunião de chefes de governo da Europa Central marcada para esta terça-feira, 19, em Jerusalém teve que ser cancelada depois que a Polônia se recusou a participar do evento. Varsóvia irritou-se com comentários do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do ministro de Relações Exteriores do país sobre o papel dos poloneses durante o Holocausto.
“A Polônia cancelou sua participação, então não haverá reunião de cúpula dos quatro países de Visegrado (Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia) em Israel”, afirmou o primeiro-ministro tcheco, Andrej Babis, nesta segunda-feira, 18.
Segundo Babis, o evento será substituído por “discussões bilaterais”. A decisão polonesa de não participar do encontro foi tomada depois que Netanyahu e o recém-nomeado ministro das Relações Exteriores do país, Yisrael Katz, fizeram declarações sobre a colaboração dos poloneses com os nazistas durante o Holocausto.
Em uma conferência sobre Oriente Médio organizada pelos Estados Unidos e pela Polônia, na semana passada, Netanyahu disse que “os poloneses cooperaram com os alemães” durante o Holocausto.
Seu gabinete afirmou mais tarde que o premiê disse apenas que alguns poloneses colaboraram com os nazistas, mas não todo o povo da Polônia, como sugeriam algumas traduções feitas pela imprensa local.
O governo polonês, contudo, convocou o embaixador israelense em Varsóvia para pedir explicações sobre o caso na sexta-feira 15 e, mais tarde, disse não estar satisfeito com a explicação do líder israelense.
A gota d’água para o governo de Varsóvia, porém, foram as afirmações de Katz. O ministro disse à emissora israelense i24 News, no domingo 17, que “muitos poloneses colaboraram com os nazistas e, como disse (o ex-primeiro-ministro israelense) Yitzhak Shamir, ‘os poloneses sugam o antissemitismo com o leite materno'”.
“As palavras do ministro das Relações Exteriores de Israel são racistas e inaceitáveis. Está claro que o nosso ministro das Relações Exteriores (Jacek Czaputowicz) não irá à reunião de cúpula”, declarou o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki.
“Esperamos uma reação firme às palavras imperdoáveis e simplesmente racistas do novo ministro das Relações Exteriores de Israel, algo que não pode ficar sem resposta”, declarou à imprensa polonesa.
O Grupo de Visegrado se reúne anualmente para discutir sua cooperação em economia, cultura, educação e ciência. Há muitos anos, o governo de Netanyahu tentava atrair os parceiros do Visegrado para um encontro em Jerusalém, como meio de aprofundar as relações entre Israel e os quatro países do leste Europeu. Os primeiros-ministros da Hungria e da Eslováquia já estavam em Israel quando o encontro foi cancelado.
Varsóvia e Jerusalém tiveram grande discussão no ano passado sobre uma nova lei polonesa que tornou ilegal culpar a Polônia por colaboração no Holocausto. O governo nacionalista do país europeu procurou se concentrar apenas em casos de heroísmo por parte dos poloneses durante a ocupação alemã do país na Segunda Guerra Mundial.
A lei foi vista por muitos como uma tentativa de anular a pesquisa e a discussão sobre participação de poloneses no assassinato da população judaica da Polônia.
A Alemanha nazista assassinou 6 milhões de judeus durante o Holocausto, muitos deles na Polônia. Apesar da recusa do governo de Varsóvia em admitir, alguns poloneses colaboraram com os nazistas.
(Com AFP, EFE e Estadão Conteúdo)