As Forças Democráticas Sírias (FSD), aliança armada liderada pelas milícias curdas que lutam contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na Síria, advertiram nesta quinta-feira, 20, que a decisão dos Estados Unidos de deixar a nação árabe é um golpe que afetará a estabilidade e a paz mundial.
A decisão do presidente Donald Trump “influenciará diretamente nos esforços para acabar com a organização terrorista e terá graves repercussões que afetarão a estabilidade e a paz mundial”, indicaram as FSD em comunicado assinado pelo seu comando geral.
O presidente americano anunciou ontem que começaram a retirar suas tropas da Síria, onde há cerca de 2.000 militares. Segundo o republicano, o EI foi totalmente derrotado no país.
As milícias, que foram vencendo nos últimos meses o território dos jihadistas e que no fim de semana passado acabaram com um dos últimos redutos do EI na província oriental de Deir ez Zor, advertiram que “a luta contra o terrorismo ainda não terminou e que a derrota final ainda não foi possível”.
Nesse sentido, as FSD asseguram que a luta está em uma “etapa crucial que requer esforços arrumados de todos e um maior apoio da coalizão internacional para sustentá-la” e “não se retirar”.
“A retirada nestas circunstâncias suporá a desestabilização da segurança, criando um vazio político e militar na região e deixando o povo entre as garras das forças e dos partidos hostis”, acrescentaram.
As FSD lançaram em setembro uma frente com a intenção de acabar definitivamente com os últimos redutos dos extremistas nos arredores do Rio Eufrates, perto da fronteira iraquiana.
Durante a campanha, contaram com o apoio aéreo dos Estados Unidos e da coalizão internacional. As forças conseguiram encurralar os jihadistas na margem oriental do Rio Eufrates, na fronteira com o Iraque.
França e Reino Unido
Após a decisão de Trump, Paris e Londres reafirmaram que continuarão a atuar na Síria contra os terroristas.
O ministério britânico das Relações Exteriores afirmou que a coalizão internacional fez enormes progressos contra o EI, mas que ainda não é hora de se retirar do país. O Reino Unido, que participa dos bombardeios aéreos realizados pela coalizão, permanece “comprometido com a coalizão internacional”.
“Desde o início das operações militares, a coalizão e seus sócios na Síria e no Iraque retomaram grande parte do território do EI e foram registrados importantes avanços nos últimos dias na última zona do leste da Síria ocupada “, reconheceu. Contudo, destacou: “Mas resta muito a ser feito e não podemos perder de vista a ameaça que representam. Inclusive sem território, o EI continua sendo uma ameaça”.
A França também faz parte da coalizão internacional, com caças na Jordânia e artilharia na fronteira iraquiana com a Síria, em apoio às Forças Democráticas Sírias.
Em entrevista à emissora francesa de notícias CNEWS, a ministra francesa de Assuntos Europeus, Nathalie Loiseau, afirmou que seu país continuará com suas ações na Síria.
“O EI não foi varrido do mapa, tampouco as suas raízes”, disse a ministra em um tuíte. “Temos que vencer militarmente e de forma definitiva os últimos bolsões desta organização terrorista”, continuou, antes de reconhecer que, no entanto, o “EI está mais fraco do que nunca”, após “perder mais de 90% de seu território”.
Apoio russo
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou que apoia a decisão dos Estados Unidos. “Se os EUA querem retirar seu contingente, isso é correto”, disse Putin durante coletiva de imprensa anual, em Moscou.
O russo, contudo, reconheceu haver riscos de que ex-combatentes do grupo se desloquem para países vizinhos. Ele afirmou, porém, estar cético de que os Estados Unidos retirarão todas as suas tropas da Síria, dado o histórico dos americanos de se envolverem em situações difíceis no Oriente Médio.
“Os EUA ficaram no Afeganistão por 17 anos e, todos os anos, eles anunciam uma retirada e eu não vejo sinais de que eles estão saindo”, comentou Putin.
A Rússia atua como força contrária aos esforços americanos na Síria. Moscou apoia os exércitos do governo de Bashar Assad no conflito, ao lado do Irã. Enquanto isso, os Estados Unidos financiam e dão suporte militar aos grupos rebeldes armados que lutam contra a ditadura e ao FSD.
(Com EFE, AFP e Estadão Conteúdo)