A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou na noite de quinta-feira 14 uma resolução para que se tornem públicas as conclusões da investigação sobre a suposta aliança do presidente Donald Trump com a Rússia para a campanha eleitoral de 2016. A vitória foi unânime, com todos os 420 deputados que votaram expondo-se favoráveis a essa ação simbólica. A decisão pressiona o Procurador-Geral de Justiça, William Barr, a divulgar o máximo de informações quando o inquérito for concluído.
Apesar da vitória, é improvável que a resolução passe pelo Senado, onde o líder democrata, Chuck Schumer, tentou levantar a discussão sobre o assunto horas antes de sua aprovação na Câmara. O debate foi rejeitado pelo presidente do Comitê Judiciário do Senado, o republicano Lindsey Graham, apesar de os resultados entre os deputados mostrar que ambos os partidos têm interesse em saber as conclusões do procurador especial Robert Mueller, encarregado da investigação. Mueller a mantém em absoluto sigilo.
De autoria do Partido Democrata, que tem maioria na Câmara, a medida aprovada na quinta-feira coincide com os boatos de conclusão da investigação conduzida por Mueller. Até mesmo os deputados republicanos, aliados de Trump, concordaram que uma discussão pública dos resultados de Mueller será necessária quando o relatório estiver pronto. Segundo o jornal The Guardian, eles têm a esperança de que as conclusões sejam favoráveis para o governo.
Apesar de o gabinete de Mueller ainda não ter se pronunciado publicamente sobre o fim do relatório, vários dos promotores de sua equipe deixaram a investigação nos últimos meses, sugerindo que o volume de trabalho diminuiu. A moção proposta pela Câmara não tem valor legal e pede que apenas os dados restritos às agências de inteligência sejam mantidos sob sigilo, mas que o Congresso tenha acesso à versão completa do relatório.
“Esta resolução é importante pelas muitas questões e críticas que o presidente e sua administração fizeram contra a investigação”, afirmou o presidente do Comitê Judiciário da Câmara, Jerrold Nadler. Em ocasiões anteriores, Trump classificou o inquérito como uma “farsa” e disse ser vítima de uma “caça às bruxas.”
Ainda não ficou claro quais informações que o documento pode trazer sobre a possível coordenação entre Trump e seus associados com o governo russo e quanto delas o Departamento de Justiça permitirá que a população americana veja. Mueller deve enviar seu relatório a Barr e então ele decidirá o que será de conhecimento público.
Em sua audiência de aprovação para o cargo, em janeiro deste ano, Barr disse ao Senado que levava a sério as regulações de seu departamento que preveem a confidencialidade do inquérito de Mueller. Segundo essas regras, o procurador-geral tem apenas que explicar a sua decisão de acatar ou rejeitar as acusações, o que pode ser feito em centenas de páginas ou até mesmo em uma pequena lista, a critério da autoridade.
Os democratas estão insatisfeitos com os posicionamentos de Barr e cobram um comprometimento maior com a publicação das descobertas, incluindo transcrições de depoimentos e outras evidências de destaque. Os republicanos concordam com o argumento da transparência e divulgação de resultados, mas dispensam a publicação de provas detalhadas.
O líder republicano na Câmara, Doug Collins, votou pela resolução mas afirmou que ela é desnecessária. “O que vai acontecer quando ela (a investigação) terminar e nada disso for verdade, o presidente não tiver feito nada de errado? Um colapso vai acontecer.”
Já o deputado Will Hurd, do Partido Republicano do Texas, apoiou os democratas e defendeu a ideia de que a resolução deveria ser ainda mais exigente. “Quero que o povo americano saiba o tanto que puderem e vejam o máximo possível”, disse Hurd, um ex-membro da Agência Central de Inteligência (CIA), “a transparência total é a única forma de evitar futuras dúvidas”, completou.
O porta-voz da Casa Branca, Hogan Gidley, declarou que a resolução é “ridícula”. “Quando tomaram posse, muitos deles disseram que queriam trabalhar com o presidente e fazer coisas pela infraestrutura e saúde, mas em vez disso estão investindo nessas ideias radicais”, declarou Gidley em entrevista para a Fox News.
Caso não tenham acesso ao relatório completo, os deputados democratas já afirmaram que recorrerão a outros meios para obtê-lo. Eles estudam até a possibilidade de intimar Mueller para falar sobre o assunto.
(com Reuters)