Relatório inédito divulgado pela ONG Repórteres sem Fronteiras nesta quarta-feira (8) aponta que a imprensa enfrenta violenta e crescente repressão na China. Ainda de acordo com o documento, a situação se assemelha aos piores momentos da presidência de Mao Tsé Tung, ditador do país entre 1949 e 1976.
O documento detalha a piora no tratamento dado a jornalistas e o aperto no controle da informação no país, contribuindo para um ambiente em que o acesso à informação e à divulgação dela se tornaram crimes.
“Qualquer que seja o assunto, aqueles que se recusam a cumprir a narrativa oficial são acusados de prejudicar a unidade nacional”, diz o relatório.
De acordo com o secretário-geral da organização, havia uma tendência emergente de melhorias na liberdade de imprensa, mas a chegada de Xi ao poder, em 2013, anulou todos os progressos que vinham sendo feitos.
“Este enorme retrocesso é ainda mais assustador quando paramos para pensar na imensa quantidade de recursos financeiros e tecnológicos que o governo têm para atingir os seus objetivos”, afirma.
O relatório lista uma série de “obstáculos” ao jornalismo no país ao longo dos últimos anos, que incluem a censura e vigilância online, propagandistas amadores pagos conhecidos como “exército dos 50 centavos”, uso crescente da detenção sem julgamento, lei de segurança nacional de Hong Kong e confissões forçadas na televisão.
Além disso, as instruções diárias do Partido Comunista Chinês às redações aliadas ao uso de alegações feitas para intimidar jornalistas e o uso de armas para proibições de saída estão entre os empecilhos que colocam em risco a profissão.
Outro ponto importante levantado pela organização é uma medida introduzida em outubro de 2019 que obriga todos os jornalistas a utilizarem um aplicativo em seus telefones. De acordo com especialistas, o software permite a coleta de dados do usuário e o acesso remoto ao microfone do aparelho.
O assédio e a intimidação também aumentaram significativamente, em particular durante a cobertura das enchentes de Henan, no início de 2021. O governo da província chegou a abrir uma licitação na época para um sistema de vigilância específico para jornalistas após o desastre.
Em 2020, ao menos 18 profissionais estrangeiros foram expulsos do país ou obrigados a fugir, principalmente durante a tentativa de realização de reportagens referentes ao bloqueio de Wuhan, no início da pandemia do coronavírus.
No que diz respeito a Hong Kong, a Repórteres sem Fronteiras disse que a mídia era considerada livre e separada das imposições do continente, no entanto esse cenário tem mudado cada vez mais e a imprensa local está em “queda livre”.
O relatório cita a prisão de jornalistas e de proprietários de mídia, a invasão às redações, as mudanças em massa na emissora estatal e a impunidade para a violência policial contra repórteres como os principais fatores para essa queda.
Por fim, o documento faz uma série de apelos e pedidos às autoridades para melhorar a atual situação, porém também listou conselhos para que os jornalistas possam se defender das violações de privacidade e intimidação.
“Pedimos a todas as democracias globais que encontrem as estratégias necessárias para dissuadir o regime de Pequim de seguir com suas políticas repressivas e que apoiem todos os cidadãos chineses que amam seu país e desejam defender o direito à informação”, conclui.