A imigrante transgênero Roxsana Hernández Rodriguez foi morta depois de ser agredida, dentro de uma das prisões da Agência de Imigração e Alfândega (ICE), dos Estados Unidos, e de ter seu socorro médico negado pelas autoridades americanas, segundo os advogados de sua família. Hernández era HIV-positivo e saíra de Honduras em busca de refúgio nos Estados Unidos.
Ela foi detida pela Agência de Imigração e Alfândega (ICE) no dia 13 de maio no porto de San Ysidro, perto de São Diego, na Califórnia. Trata-se de região de tensão permanente entre migrantes e a polícia de fronteira americana. Em 16 de maio, Hernández foi transferida para uma unidade de detenção privada da ICE, o Centro Cibola County, no Novo México, e instalada em uma ala para transgêneros.
Nove dias depois, ela morreu no Centro Médico Lovelace, em Albuquerque. Em uma nota publicada na época, a ICE disse que a causa preliminar da morte era parada cardíaca. Mas uma autópsia adicional, paga pela organização Transgender Law Center, que está representando a família de Hernandez, sugere que ter sido ela vítima de “complicações severas da desidratação”, agravadas pela infecção do HIV.
O relatório da autópsia também mencionou marcas no corpo de Hernández, sugerindo que algemas apertadas foram postas em seus pulsos e que ela foi espancada nas costas e no abdômen, disseram os advogados da família.
“Sua morte era totalmente evitável”, disse Lynly Egyes, diretora de lítigio da Transgender Law Center, em um comunicado divulgado na segunda-feira (26). O centro enviou uma notificação por escrito relatando lesão corporal e declaração equivocada de morte para o estado do Novo México, no último dia 19. Este foi o primeiro passo o início de uma ação judicial.
A Agência de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos disse não poder garantir a validade da autópsia particular, que foi noticiada pelo The Daily Beast. Afirmou ainda, em comunicado, que as alegações de abuso cometidos pela ICE são falsas.
“Uma revisão da morte de Hernández, conduzida pelo serviço médico legal da ICE, confirmou que ela sofria com um histórico de HIV não tratado. Em nenhum momento, as equipes médicas que cuidaram da Senhora Hernández no Hospital Geral de Cibola ou no Centro Médico Lovelace levantaram qualquer suspeita de abuso físico.”
Um porta-voz da CoreCivic, que administra as instalações do Centro Cibola, disse que a transgênero ficou na unidade por apenas 12 horas antes de ser levada para um hospital externo, em 17 de maio.
ONG organizava caravana
Hernández, de 33 anos, deixou Honduras para fugir da “violência, ódio, estigma e vulnerabilidade” que sofreu como uma mulher transgênero, informou a ONG Pueblo Sin Fronteiras, que organizou a caravana de migrantes em que ela participou, ainda em maio.
Ela já havia feito o mesmo trajeto três vezes antes. Entrara nos Estados Unidos ilegalmente duas vezes, entre 2005 e 2009. Em ambas as viagens, Roxsana retornou voluntariamente para o México. Em 2014, ela entrou nos Estados Unidos pela terceira fez e foi deportada pouco depois, de acordo com a ICE. Mas ela recomeçou a jornada em abril deste ano.
Advogados disseram que sua condição física começou a deteriorar assim que ela foi presa pelo ICE. De acordo com o BuzzFeed, o grupo que a acompanhava disse que ela foi encarcerada na cela conhecida como “caixa de gelo” por causa graças a suas temperaturas frias. Hernandez teve acesso negado ao pedido de ajuda médica e só viu um médico depois de passar vários dias vomitando e com diarreia.
“Evidência forense indica que ela foi algemada tão firmemente que sofreu lesões profundas no tecido da pele, além de ter sido atingida repetidamente nas costas e nas costelas por chutes ou objeto contundente, enquanto suas mãos estavam presas atrás das costas.”, escreveram os advogados, na notificação enviada ao governo americano.
25 transgêneras
No dia 17, ela deu entrada no Hospital de Cibola com sintomas de pneumonia, desidratação e complicações associadas a AIDS, de acordo com o ICE. Horas depois, foi transferida de helicóptero para Lovelace, onde ficou internada na UTI. Sua morte foi anunciada no dia 25 de maio.
Hernández era uma das 25 pessoas transgêneras ou “fora da conformidade de gênero” que participavam da caravana anual organizada pela Pueblo Sin Fronteiras. A diretora de Relações Públicas da administradora do hospital Cibola garante que funcionários do local devem completar 160 horas de treinamento, prévio e durante serviço, com dinâmicas educativas contra abuso sexual, assédio, e respeito com minorias, incluindo internos transgênero.