Recuo de Trump é passo importante para ‘estabilizar economia global’, diz UE
Bloco anunciou pausa em contratarifas nesta quinta-feira, após medida similar tomada por Washington

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ter recebido “com satisfação” a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de pausar por 90 dias as tarifas recíprocas e reduzir para 10% as taxas de importação sobre países, com exceção da China. A fala da líder do braço executivo da UE sobre a medida, que seria “um passo importante para estabilizar a economia global”, foi feita pouco antes do bloco anunciar, nesta quinta-feira, 10, uma pausa nas contratarifas planejadas contra os EUA.
+Com trégua dos EUA, União Europeia adia contratarifas por 90 dias
“Tomamos nota do anúncio do presidente Trump. Queremos dar uma chance às negociações. Enquanto finalizamos a adoção das contramedidas da UE, que contaram com forte apoio dos nossos Estados-membros, vamos suspendê-las por 90 dias”, disse durante anúncio da pausa.
Na quarta-feira, em resposta às tarifas de 25% impostas por Washington sobre exportações de aço, alumínio e automóveis, além de tarifas recíprocas de 20% sobre quase todos os demais produtos do bloco, a União Europeia aprovou o que seriam as primeiras contramedidas do bloco, cobrindo cerca de 23,2 bilhões de dólares em produtos americanos.
A medida começaria a valer em 15 de abril, mas poderia ser suspensa “a qualquer momento, caso os EUA concordem com uma solução negociada justa e equilibrada”, à exemplo da pausa anunciada por Trump.
Na segunda-feira, ministros da UE se encontraram e concordaram em priorizar as negociações com os EUA, ao invés de represálias imediatas. Muitos deles, contudo, pareciam mais disposto a negociar para bloquear as tarifas de Trump do que mergulhar o continente numa guerra comercial. Em coletiva, o vice-ministro da Economia da Polônia, Michal Baranowski, frisou que os representantes não queriam ser “precipitados”. Por sua vez, o comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic, disse que as discussões com Washington estavam em um estágio inicial.
“Embora a UE permaneça aberta — e prefira fortemente — a negociações, não esperaremos indefinidamente”, salientou Sefcovic, acrescentando que o bloco avançaria com contramedidas para evitar o desvio de comércio.
Há preocupação de países europeus que podem ser mais afetados pelas tarifas de Trump, como é o caso da França e da Itália, exportadoras de vinho e destilados. O republicano já ameaçou uma contratarifa de 200% sobre bebidas alcoólicas da UE se o bloco impor uma taxa de 50% ao bourbon, um tipo de uísque, dos EUA.
Apesar dos alertas de Trump, Sefcovic salientou que analisa todas as possibilidades de resposta, incluindo o Instrumento Anticoerção da UE. O mecanismo permite mirar serviços americanos ou limitar o acesso de empresas do país a licitações de compras públicas da União Europeia. Acredita-se que o bloco deve aprovar ainda nesta semana uma retaliação de até 28 bilhões de dólares (165 bilhões de reais) em importações americanas, desde fio dental a diamantes.
Ao mesmo tempo, Bruxelas tem menos alvos do que Washington na queda de braço. As importações de produtos do bloco europeu vindas dos Estados Unidos representam 334 bilhões de euros (cerca de 2,1 trilhões de reais) no ano passado, contra 532 bilhões de euros (3,4 trilhões de reais) de exportações da UE para os EUA.