O ex-presidente e líder do Partido Comunista de Cuba (PCC), Raúl Castro, pediu nesta terça-feira 1 ao seu país para reforçar a defesa e se preparar “para os piores cenários” contra os Estados Unidos, cujo governo acusou de ter retomado a política de “confronto”.
Em um discurso na cidade de Santiago de Cuba, por ocasião do 60º aniversário da Revolução Cubana de 1959, Castro, de 87 anos, disse que é o dever dos cubanos se preparar “meticulosamente para todos os cenários, incluindo os piores” e “não deixar espaço para perplexidade e improvisação”.
“Continuaremos a priorizar as tarefas de preparar a defesa” com o objetivo de “preservar a soberania e a paz”, disse o ex-presidente cubano, que deixou o cargo em abril de 2018, sendo substituído por Miguel Díaz-Canel.
“Agora, novamente o governo norte-americano parece tomar o rumo da confrontação com Cuba e apresentar nosso país pacífico e solidário como uma ameaça à região”, declarou Raúl.
As duas nações restabeleceram as relações diplomáticas em julho de 2015, durante o governo de Barack Obama. Desde o início do mandato de Donald Trump, contudo, os laços entre Washington e Havana sofreram um grande retrocesso.
Diante de 1.000 convidados, Raúl destacou que, nos 60 anos da Revolução cubana, que inspirou movimentos de esquerda na América Latina, “não se teve um minuto de sossego durante os 12 governos americanos, que não deixaram de forçar um caminho ao regime em Cuba”.
Ele reiterou, contudo, a disposição do seu país para “conviver civilizadamente” com o vizinho, “numa relação de paz, respeito e benefício mútuo”.
Para comemorar os 60 anos da Revolução, as ruas de Santiago foram enfeitadas com bandeiras e cartazes para o aniversário. Em um destes, que mostra um vigoroso Fidel alçando um fuzil junto com Raúl, pode-se ler: “60 anos de vitórias”.
Vinte e um tiros de canhão na baía de Havana à meia-noite deram início à comemoração, com shows e festas por toda ilha nesta terça-feira. Por uma coincidência de calendário, esta histórica comemoração coincidiu com a posse do presidente Jair Bolsonaro no Brasil, país que dá uma guinada à direita, como já fizeram Argentina, Chile e Peru.
Tensões com os EUA
O governo cubano vem acusando os americanos de terem aumentado as pressões políticas e econômicas para forçar “uma mudança de regime” no país.
Em novembro o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, disse que os Estados Unidos adotarão uma linha mais dura contra Cuba, Venezuela e Nicarágua, países que qualificou como a “troika da tirania”.
O discurso de Raúl veio em um momento no qual o governo cubano se vê afetado pelas sanções comerciais de Washington, o colapso econômico de sua aliada estratégica Venezuela e as tensões nas finanças internas do país.
A economia local teve um crescimento anual médio de 1% nos últimos três anos, menos que a taxa de 5 a 7% que especialistas afirmam ser necessária para a ilha se recuperar de uma depressão da década de 1990.
(Com EFE, Reuters e AFP)