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Que tal fazer turismo na Coreia do Norte?

A ditadura de Kim Jong-un quer aumentar de 20.000 para 1 milhão o número turistas estrangeiros por ano no país

Por Lourival Sant'Anna, de Pyongyang
15 jun 2018, 17h39
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  • O governo do país mais fechado do mundo aposta, ironicamente, no turismo para atrair moeda forte. As lojas estatais da Coreia do Norte que atendem turistas aceitam yuans (o dinheiro chinês), dólares e euros. Os funcionários já sabem as taxas de conversão de cabeça e dão troco em moeda estrangeira. Vinte agências estatais fazem a recepção dos turistas estrangeiros e os tours. A maior delas tem oitenta funcionários.

    Sete hotéis recebem os estrangeiros em Pyongyang. Para a produção da reportagem de capa desta semana, VEJA ficou no Yanggakdo (“Chifre de Carneiro”), o maior e mais “luxuoso” deles, que equivaleria a um três estrelas no Brasil. Lá o estudante americano Otto Warmbier, de 23 anos, que visitava o país como turista, foi acusado de “invadir” um andar reservado aos norte-coreanos e “roubar” um cartaz de propaganda do partido, em janeiro de 2016. Condenado a 15 anos de prisão e trabalhos forçados, ele foi torturado até entrar em coma e repatriado em junho de 2017 para os Estados Unidos, onde morreu em seguida.

    A história não é um grande incentivo ao turismo, mas o governo estabeleceu a meta de aumentar de 20.000 para 1 milhão o número de visitantes estrangeiros por ano. Para isso, está terminando a construção de um arranha-céus de aço e vidro, com 105 andares, que será o Hotel Ryugyong (“Salgueiro”).

    Dos atuais turistas, 90% são chineses. Os restantes são na maioria alemães, franceses, australianos e japoneses. O regime tenta equilibrar a necessidade de atrair moedas fortes com a de evitar que os estrangeiros entrem no país (ou saiam dele) com informações “perniciosas”. Ao comprar os pacotes, os turistas são avisados de que não podem levar teleobjetivas (lentes fotográficas de aproximação), publicações, símbolos americanos e qualquer conteúdo que possa ser considerado ameaçador.

    É proibido fazer imagens de militares e desaconselhável fotografar pessoas de perto. Os motoristas dos ônibus se recusam a parar durante os percursos do hotel aos pontos turísticos. Pedidos para caminhar nas ruas, mesmo trajetos curtos com os guias, são recebidos com suspeição. Árvores grandes foram plantadas na beira das estradas para evitar o registro de cenas de trabalhadores rurais trabalhando com as mãos nuas, ferramentas rudimentares ou tratores obsoletos.

    Na saída do país, os policiais verificam as imagens nas câmeras, computadores, cartões de memória, pen drives e discos rígidos de todos os estrangeiros. O que lhes parecer impróprio é apagado. A inspeção é mais rigorosa no aeroporto. Na estação de trem de Sinuiji, na fronteira com a China, o foco maior é nas mercadorias. Fica a dica.

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