Aproximadamente 800.000 crianças que moram na Faixa de Gaza só conheceram a vida sob o conflito que existe na região entre Israel e Palestina. Isso tem um impacto direto na saúde mental destes jovens. De acordo com o relatório da ONG Save the Children, publicado nesta quarta-feira, 15, 80% das crianças lá sofrem de depressão e relatam sentir tristeza e medo.
Além disso, mais da metade das crianças de Gaza pensaram em suicídio e três em cada cinco se automutilaram.
Entre os sentimentos relatados pelas crianças, 84% têm medo, 80% estão nervosas, 78% de luto e 77% tristes. Alguns comportamentos também foram observados pelos médicos de Gaza: houve um aumento de 59% de crianças com dificuldades de fala, linguagem e comunicação, incluindo mutismo, que é um sintoma de trauma ou abuso, e 48% têm dificuldade de se concentrar.
Os responsáveis pelas crianças também sentiram o impacto do conflito. Mais de 95% dos entrevistados relataram tristeza e ansiedade constantes e sofrimento emocional.
O relatório, chamado de “Aprisionado” , entrevistou 488 crianças e 168 pais e cuidadores na Faixa de Gaza. Elenca também seis situações de risco de vida sofridas pelas crianças – cinco escaladas de violência e a pandemia de Covid-19. A ONG alertou que o efeito desses sintomas no desenvolvimento, aprendizado e interação social das crianças é imediato e de longo prazo.
A última pesquisa semelhante foi realizada em 2018. Percebeu-se que a saúde mental das crianças piorou neste período. O relatório mais recente da Save the Children mostrou que o bem-estar mental de crianças, jovens e cuidadores se deteriorou dramaticamente, com o número de crianças relatando sofrimento emocional aumentando de 55% para 80%.
Os fatores que contribuíram para a crise de saúde mental vivida por crianças e jovens em Gaza foram a falta de acesso a serviços básicos, como cuidados de saúde, e o bloqueio em curso desde 2007, que impõe restrições aos deslocamentos e viagens dos palestinos. As travessias entre Gaza e Israel são regularmente fechadas e existem restrições à entrada de combustível, eletricidade e outros bens. O conflito afetou severamente a economia do território. Afetou ainda mais as crianças, que representam 47% dos 2,1 milhões de habitantes de Gaza.
“A evidência física de sua angústia – enurese noturna, perda da capacidade de falar ou de completar tarefas básicas – é chocante e deve servir como um alerta para a comunidade internacional”, disse Jason Lee, diretor nacional da Save the Children nos territórios palestinos ocupados.
A Save the Children pediu ao governo israelense que tome medidas imediatas para suspender o bloqueio à Faixa de Gaza, além de pôr fim à ocupação em andamento.
“Pedimos a todos os lados que combatam as causas profundas deste conflito e tomem medidas para proteger todas as crianças e famílias que merecem viver em segurança e dignidade. Precisamos de um fim imediato para o conflito e a privação econômica que são grandes estressores na vida das crianças, bem como ações para apoiar o potencial de enfrentamento e a resiliência das crianças e suas famílias na Faixa de Gaza”, disse a organização.