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Próxima parada para Harvey Weinstein: cadeia

O incensado produtor de cinema que se aproveitava de aspirantes ao estrelato é declarado culpado de crimes sexuais por um tribunal de Nova York

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 14h42 - Publicado em 28 fev 2020, 06h00
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  • Para alguém que durante décadas fez e desfez carreiras em Holly­wood a seu bel-prazer, a derrocada foi fulminante. Acusado de assédio por mais de oitenta mulheres a partir de outubro de 2017 — o estopim do movimento #MeToo —, Harvey Weinstein, 67 anos, ex-todo-poderoso produtor de cinema, saiu de seu primeiro julgamento, em Nova York, com duas condenações nas costas, por abuso sexual e estupro. A decisão do júri, após cinco dias de deliberações, acabou sendo menos abrangente do que as vítimas de Weinstein esperavam, já que descartou uma terceira acusação, de predador sexual contumaz, que poderia lhe render prisão perpétua. Mesmo assim, foi vastamente comemorada como um divisor de águas: com ela, cai por terra a cortina de impunidade que sempre protegeu assediadores do cacife de Weinstein. Submetido há dois meses a uma cirurgia na coluna, motivo alegado para comparecer ao tribunal de andador e com expressão de sofrimento, ele seguiu algemado para a ambulância que o levaria à penitenciária de Rikers Island. No meio do caminho, passou mal, com palpitação e pressão alta, e foi internado em um hospital.

    A sentença de Weinstein será anunciada em 11 de março e, pelos dois crimes, ele pode pegar uma pena de até 25 anos de cadeia. Devido a seu estado de saúde e ao risco de ser ameaçado pelos detentos comuns, ele deve ocupar em Rikers Island, quando finalmente for para lá, uma cela especial com direito a banheiro e telefone pago, mas depois que a pena estiver definida irá para um presídio comum — destino inimaginável para o dono, junto com o irmão Bob, do estúdio Miramax, responsável por sucessos como Pulp Fiction e Shakespeare Apaixonado, este ganhador de sete Oscar em 1999.

    A mobilização mundial anti­assé­dio alastrou-se após a publicação na imprensa americana das primeiras denúncias de que Weins­tein prometera a uma infinidade de artistas principiantes alavancar sua carreira em troca de favores sexuais. O escândalo cresceu como bola de neve incontrolável e expôs investidas dele contra celebridades como Salma Hayek, Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie — relatadas por elas em meio a enorme comoção. Weinstein chegou a admitir que causara “muita dor” e pedir desculpas, embora sempre tenha insistido que o sexo era con­sen­sual. A Miramax faliu, mas suas finanças pessoais parecem sólidas: ele pagou fiança de 1 milhão de dólares para aguardar o julgamento em liberdade e contratou um batalhão de advogados e consultores (entre eles um especialista em presídios) para tentar se livrar da cadeia. A defesa antecipou que vai recorrer da sentença ou mesmo tentar anular o processo, acusando o juiz James Burke de falta de isenção.

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    Weinstein se beneficiou do fato de que a maior parte dos ataques relatados por mulheres nestes dois anos e meio já prescreveu. Pelo sim, pelo não, em janeiro a defesa chegou a um acordo de 25 milhões de dólares (bancados por uma seguradora) com trinta vítimas para garantir que se ponha uma pedra no assunto. Mas mesmo assim a prestação de contas não acabou: a promotoria de Los Angeles acatou a acusação feita por duas mulheres de que haviam sido estupradas por ele em 2013 e um novo processo o aguarda na cidade, ainda sem data definida. A este, Weinstein, o ex-chefão intocável, já chegará como criminoso condenado. Foi uma bela vitória do #MeToo.

    Publicado em VEJA de 4 de março de 2020, edição nº 2676

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