Há evidências de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, e outras autoridades de Riad estão envolvidos no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em outubro do ano passado, segundo novo relatório produzido por uma especialista das Nações Unidas.
Depois de investigar durante seis meses a morte do jornalista saudita, a relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, Agnès Callamard, afirma que “existem elementos de provas que justificam uma investigação suplementar sobre a responsabilidade individual de altos funcionários sauditas, incluindo o príncipe herdeiro”.
“É a conclusão da relatora especial que Khashoggi foi vítima de uma execução deliberada e premeditada, um assassinato extrajudicial pelo qual o Estado da Arábia Saudita é responsável de acordo com a lei internacional de direitos humanos”, diz o relatório divulgado nesta quarta-feira, 19.
Khashoggi foi morto no consulado saudita em Istambul por agentes do governo de Riad. O reino acusou onze pessoas pelo assassinato e realiza o julgamento a portas fechadas. A identidade dos réus não foi divulgada.
Segundo Agnès Callamard, contudo, o julgamento e as investigações conduzidas pela Arábia Saudita e pela Turquia não seguem os procedimentos internacionais estabelecidos pela ONU. A relatora pediu que as audiências do caso sejam suspensas.
Callamard teve acesso aos áudios das conversas gravadas no consulado antes da morte do jornalista. Ao reconstruir os últimos momentos de vida de Khashoggi, a relatora afirmou que as evidências sugerem que ele foi atacado, sedado e sufocado com uma sacola plástica.
Ainda segundo a investigação, um oficial saudita ameaçou o repórter antes de agredi-lo. “Nós vamos te pegar”, ele disse, de acordo com o relatório.
A relatora afirmou ainda que a investigação feita por Riad sobre o caso não foi conduzida da maneira correta e pode, inclusive, ser objeto de um processo de obstrução de justiça.
“Até o momento, o Estado saudita não reconheceu publicamente sua responsabilidade pelo assassinato de Khashoggi e não apresentou um pedido de desculpas à família, amigos e colegas do jornalista pela sua morte e pela maneira como ele foi morto”, diz o relatório da ONU.
O caso
Em 2 de outubro, Khashoggi ingressou no consulado saudita em Istambul para colher documentos para seu casamento. Deixou a noiva à sua espera, do lado de fora. Ele jamais saiu vivo do prédio.
Gravações e evidências colhidas por várias agências de inteligência, entre as quais a CIA, mostram que o jornalista foi assassinado por uma equipe de agentes enviados especialmente por Riad para essa missão. Seu corpo foi esquartejado por um perito saudita dentro do consulado e dissolvido.
Mohamed bin Salman já havia sido acusado internacionalmente de ser o mandante do crime. Em dezembro, a Turquia ordenou a prisão de oficiais do governo próximos ao príncipe herdeiro, aumentando ainda mais as suspeitas sobre seu envolvimento. A CIA também acusou Salman de ter ordenado a morte do jornalista.
A Arábia Saudita tem dito que o príncipe não tinha conhecimento prévio sobre o crime. Depois de oferecer várias explicações contraditórias, Riad disse que Khashoggi foi morto e que seu corpo foi esquartejado por funcionários sauditas em uma operação não autorizada pelo governo.
Khashoggi escrevia para o jornal americano The Washington Post. O jornalista era um defensor da liberdade no mundo árabe e um notório crítico das ações do reino, principalmente de Salman.
(Com AFP)