A cena ao lado foi a senha para alimentar as manifestações de rua que devem crescer nos próximos dias. Deputados de partidos de oposição ao governo da primeira-ministra Élisabeth Borne e do presidente Emmanuel Macron protestaram na Assembleia na segunda-feira 20 contra a aprovação na marra, sem votação — por meio de um artigo de exceção, o 49:3, a “opção nuclear”, como foi apelidada —, da reforma da previdência. Houve uma moção de censura, mas Borne e Macron sobreviveram, embora fragilizados politicamente. Apenas nove votos mantiveram em pé o projeto, que aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, mas o clima é de derrota. “64 é não!”, “Nos vemos nas ruas”, informavam os cartazes erguidos pelos políticos. Será difícil, agora, apagar as chamas populares. Protestos pipocaram por toda a França logo depois da sessão no Parlamento. Sindicatos marcavam uma greve nacional. Nas charmosas vielas parisienses ao redor da Praça da Concórdia, bombeiros precisaram apagar 240 focos de incêndio. A polícia prendeu quase 300 manifestantes na capital francesa e passou a fazer uso recorrente de gás lacrimogêneo. Cenas tensas se repetiram em Rennes, Lyon, Toulouse e Marselha. A decisão de puxar a idade da aposentadoria é correta e necessária, porque sem ela o país quebra. Contudo, o vespeiro é para lá de volumoso e agitado — mais de 70% da população, habituada à generosidade do estado provedor e gastador, se opõe ao projeto. A briga vai longe.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2023, edição nº 2834