O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, era um clérigo linha-dura que foi eleito em agosto de 2021 com o apoio do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Lá, quem manda mesmo é Khamenei, quem dá a última palavra em assuntos estratégicos de Estado, mas o presidente tem grande influência na política interna e externa. Foi Khamenei que escolheu Raisi para ser o grande guardião da Astan Quds Razavi, uma das fundações religiosas do Irã. O país é governado com mãos de ferro desde a Revolução Islâmica de 1979, que impôs restrições à liberdade política.
Raisi tem 63 anos de idade. O nome completo dele é Sayyid Ebrahim Raisol-Sadati. Quando foi eleito em 2021, Raisi derrotou Hassan Rouhani, um presidente mais moderado, que buscava a reeleição. Em 2017, Raisi tinha se candidatado à Presidência, mas foi derrotado por Rouhani. Raisi ocupou diversos cargos o Judiciário iraniano. Ele foi procurador-Geral por dois anos, até 2016. Antes, tinha sido promotor e procurador adjunto de Teerã.
Ele foi um dos estudantes que se rebelaram contra o Xá, movimento que eclodiu na Revolução Islâmica de 1979, liderada pelo Aiatolá Khomeini, que aprovou uma constituição teocrática. O presidente do Irã é acusado por diversos ativistas de direitos humanos de participação nas execuções em massa de cerca de 5.000 prisioneiros políticos no país. Isso se deu em 1988, quando ele era vice-procurador-geral de Teerã e atuou como um dos juízes dos tribunais secretos, conhecidos como Comitê da Morte.
Raisi foi acusado de mandar matar mais gente, após assumir a chefia do Judiciário, em 2019. Ele foi o principal responsável pelas reformas que levaram á redução do número de pessoas condenadas à morte por crimes relacionados ao narcotráfico, mas as mortes não cessaram. Raisi também era responsável por perseguir cidadãos suspeitos de espionagem no Irã. O governo dos EUA impôs sanções a Raisi em 2019 pelo histórico de violações de direitos humanos.
Na primeira eleição, em 2017, quando não foi eleito, Raisi se apresentou como candidato anticorrupção. Em 2021, no pleito em que se sagrou vencedor, ele se apresentou como o candidato que iria combater a pobreza, a corrupção e a discriminação. Eleito com 62% dos votos, Raisi endureceu as chamadas leis morais no Irã, que permitem o espancamento de mulheres que não cobrem a cabeça com um lenço. No final do ano passado, a adolescente Armita Geravand morreu após ser espancada. Um ano antes, ganhou repercussão a morte de Mahsa Amini, que gerou protestos no país. Durante as manifestações, Raisi cuidou de reprimir com violência os civis que foram para as ruas.
O presidente do Irã fortaleceu os vínculos com grupos terroristas, principalmente aqueles que não reconhecem a existência de Israel. O Hamas, por exemplo, invadiu Israel em outubro do ano passado e aniquilou mais de 1.300 pessoas, incluindo turistas brasileiros. Mais de 200 pessoas foram sequestradas e levadas para a Faixa de Gaza. Outro grupo terrorista que o país de Raisi apoia é o Hezbollah, baseado no Líbano, que também tenta destruir Israel. No Iêmen, o Irã apoia o grupo terrorista Houthi.
A prova da ligação umbilical do Hamas com o Irã foi dada hoje. O porta-voz do grupo, Izzat al-Risheq, enviou mensagem de solidariedade ao governo iraniano assim que recebeu a notícia do sumiço do helicóptero com o presidente. “Nosso coração está com a nação iraniana como amiga e irmã. Oramos a Deus por misericórdia e cuidado com o presidente, o ministro das Relações Exteriores e seus companheiros”, diz a mensagem do Hamas.
O Irã ingressou no Brics com o apoio do presidente Lula. O grupo era formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Recentemente, o Brics recebeu a adesão de Irã, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes e Etiópia. A Argentina também foi convidada para ingressar, mas o presidente Javier Milei, de perfil liberal, recusou o convite. Lula teve um encontro com Raisi em outubro do ano passado, em Joanesburgo, na África do Sul, à margem da cúpula dos Brics. Segundo a informação oficial, o presidente iraniano agradeceu a Lula pela entrada de seu país no bloco econômico e afirmou que desejava ampliar as relações comerciais com o Brasil.
Com a morte do presidente da República do Irã, vai assumir o comando do país o vice-presidente Mohammad Mokhber, de 69 anos de idade, outro conservador. A lei do país determina que, em caso de morte, o vice assume e convocam-se eleições em um prazo de seis meses após a posse.