O presidente do Haiti, Jovenel Moïse, foi morto a tiros por agressores não identificados na residência oficial durante a noite em um ato “desumano e bárbaro”, informou o primeiro-ministro interino, Claude Joseph, nesta quarta-feira, 7. A esposa de Moïse, Martine, ficou ferida no ataque que aconteceu no bairro de Pelerin, em Porto Príncipe, e foi internada.
“Nesta manhã, à 1h da manhã, 7 de julho, um grupo de pessoas não identificadas, que falavam em espanhol e inglês, assassinou o presidente da República. O presidente morreu em decorrência de seus ferimentos”, declarou o primeiro-ministro.
Em um comunicado, Joseph afirmou que está no comando do país e pediu calma à população, acrescentando que a polícia e o Exército já têm o controle da situação.
“Todas as medidas estão sendo tomadas para garantir a continuidade do Estado e proteger a nação”, afirmou.
O ataque, contudo, acontece em meio a uma onda crescente de violência ligada à crise política no país. Em fevereiro, Moïse, de 53 anos, denunciou que a oposição, com o apoio de juízes, estava tramando um golpe de Estado. Segundo a oposição, o mandato presidencial deveria ter terminado em 7 de fevereiro, cinco anos após o ex-presidente Michel Martelly deixar o poder.
As eleições de 2015 deram vitória a Moïse no primeiro turno, mas foram anuladas por denúncias de fraude. Moïse, na prática, decidiu se manter no poder e governava há dois anos por decreto, após o país fracassar em realizar novas eleições, o que levou à dissolução do Parlamento.
Afirmando que o mandato de cinco anos acabaria apenas em 2022, ele remarcou as eleições legislativas para setembro, mesma data para qual convocou um referendo para aprovar uma nova Constituição, um projeto que não teve o apoio da oposição nem da comunidade internacional.
No início da semana, o presidente havia nomeado um sucessor para o cargo de Joseph, o médico Ariel Henry, com a tarefa de formar um governo de consenso que integra diferentes setores da vida política do país. Henry seria o sétimo a ocupar o cargo em quatro anos.
O presidente já enfrentava protestos desde que assumiu o comando do país, em 2017, sendo acusado pela oposição de tendências autoritárias e tentar instalar uma ditadura ao prolongar seu mandato. Em 2019, protestos paralisaram a capital haitiana exigindo a renúncia do presidente, acusado de participar de um escândalo de malversação de dois bilhões de dólares do fundo do Petrocaribe, mecanismo pelo qual a Venezuela forneceu petróleo a países caribenhos e centro-americanos a preços reduzidos.
Violência e turbulência política
Soma-se à turbulência política histórica do país, depois de quase 30 anos de ditadura da dinastia Duvalier, entre 1957 e 1986 e um subsequente golpe militar contra Jean-Bertrand Aristide, uma escassez crescente de alimentos e combustíveis e o fato de que 60% da população ganha menos de 2 dólares por dia, enquanto o país ainda tenta se recuperar do devastador terremoto de 2010 e do furacão Matthew, de 2016.
Além disso, o país não vacinou até agora nenhum de seus 11,26 milhões de habitantes contra a Covid-19.
Ao mesmo tempo, o país está passando por uma profunda crise de segurança, que se agravou especialmente desde o início de junho, devido às lutas territoriais entre gangues armadas que lutam pelo controle dos bairros mais pobres de Porto Príncipe.
Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicado há duas semanas estima que há atualmente 95 gangues armadas que controlam grandes faixas territoriais da capital.
“Essas gangues estão cada vez mais envolvidas em batalhas armadas pelo controle do território, afetando a vida de cerca de 1,5 milhão de pessoas”, diz o documento.
Desde o início de junho, a escalada da violência de grupos criminosos na área metropolitana de Porto Príncipe deslocou pelo menos 17.000 civis, de acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), e matou dezenas de civis.