O Serviço de Segurança da Ucrânia invadiu um mosteiro cristão ortodoxo de 1 mil anos em Kiev nesta terça-feira, 22, como parte de uma operação para combater suspeitas de “atividades subversivas dos serviços especiais russos”.
Localizado no sul da capital, o Mosteiro das Cavernas de Kiev é a sede da ala russa da igreja ortodoxa ucraniana que está sob o patriarcado de Moscou, além de ser um tesouro cultural da Ucrânia e Patrimônio Mundial da Unesco.
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“Essas medidas estão sendo tomadas como parte do trabalho sistêmico do Serviço de Segurança para combater as atividades destrutivas dos serviços especiais russos na Ucrânia. A busca tinha como objetivo impedir que o mosteiro fosse usado como o centro do mundo russo”, disse o órgão em comunicado.
O conceito de “mundo russo” faz parte da nova doutrina política do presidente do país, Vladimir Putin, que visa proteger a língua, a cultura e a religião da Rússia, além de ter sido usado por ideólogos conservadores para justificar a intervenção no exterior.
O Serviço de Segurança não deu detalhes sobre a operação, mas policiais foram vistos verificando identidades e revistando as bolsas dos fiéis antes de deixá-los entrar. Além do Mosteiro das Cavernas, os investigadores também revistaram dois outros complexos religiosos e a sede da diocese do patriarcado de Moscou no oeste da Ucrânia.
A Igreja Ortodoxa Russa, cujo líder tem apoiado fortemente as ações militares do Kremlin no país vizinho, condenou o ataque desta terça e o chamou de um “ato de intimidação”.
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A medida deverá tornar ainda mais tensa a relação entre os cristãos ortodoxos de ambos os países, principalmente depois que o Kremlin denunciou as buscas como “o capítulo mais recente da guerra de Kiev contra a igreja russa”.
O conflito na Ucrânia serviu para dividir ainda mais as duas igrejas e intensificou uma disputa de longa data sobre lealdade religiosa. A Igreja Ortodoxa Ucraniana se separou formalmente da liderança de Moscou há três anos, fazendo com que a Rússia perdesse várias paróquias ucranianas. No entanto, muitas igrejas e mosteiros históricos permaneceram leais aos russos na religião e política.
Na última sexta-feira, 18, o Serviço de Segurança acusou um clérigo da região de Vinnytsia de tentar distribuir panfletos justificando a invasão da Ucrânia pela Rússia. Antes disso, em maio, os ortodoxos ucranianos já haviam rompido completamente seus laços com a Igreja do país vizinho devido ao apoio ao conflito armado.
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No início de novembro, a Igreja Ortodoxa da Ucrânia disse que permitiria que suas congregações celebrassem o Natal em 25 de dezembro pela primeira vez, um afastamento histórico da Rússia – há séculos os ucranianos celebram o Natal em 7 de janeiro, data de nascimento de Jesus de acordo com o calendário juliano.