As investigações sobre a explosão no porto de Beirute em agosto do ano passado foram interrompidas nesta terça-feira, 12, em meio a uma intensão pressão de políticos sobre o juiz no comando do caso. Esta é a terceira vez em duas semanas em que há interrupção dos trabalhos para apurar o incidente na capital libanesa, que matou mais de 200 pessoas, feriu outras 6.500 e devastou diversas partes da cidade.
A suspensão ocorreu após dois ex-ministros que enfrentam acusações apresentarem uma nova queixa contra o juiz Tarek Bittar, forçando uma interrupção das investigações até que o Judiciário do Líbano se manifeste. O pedido inicial apresentado no mês passado levou à suspensão temporária da investigação. O pedido foi rejeitado pela Corte de Apelações em 4 de outubro, seguido por outra rejeição da Corte de Cassação na segunda-feira.
A noa queixa, por sua vez, foi apresentada poucos momentos depois de o magistrado emitir um mandado de prisão para o ex-ministro das Finanças Ali Hasan Khalil, após ele não responder à convocação para um interrogatório. O mesmo havia acontecido no final de setembro com o ex-ministro Youssef Finianos.
Com a interrupção, foram suspensas também as sessões de interrogação marcadas para esta semana, que incluiriam Khalil, Finianos e Ghazi Zeiter, que deveria depor nesta quarta-feira e também assinou a petição desta semana. O juiz também convocou o ex-premiê Hassan Diab para ser interrogado mais tarde neste mês.
Bittar tem sido alvo de forte pressão de grupos que o acusam de viés político. Na segunda-feira, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, acusou o juiz de usar “o sangue de vítimas para interesses políticos”, pedindo que fosse substituído.
Familiares das vítimas que continuam apoiando o magistrado afirmam que autoridades tentam sistematicamente obstruir a investigação. À rede Al Jazeera, Nizar Saghieh, membro da organização de monitoramento legal Legal Agenda, afirmou que o juiz tem acusado e processado autoridades “a partir de claras documentações e evidências”.
Bittar assumiu o comando da investigação sobre a explosão do porto em fevereiro, após Fadi Sawan, seu antecessor, ser retirado após uma queixa legal similar que questionava sua imparcialidade. Na época, ex-ministros Sawan e Khalil afirmaram que ele não poderia comandar uma investigação imparcial porque sua casa em Beirute foi destruída pela explosão.
Além dos problemas deixados pela explosão, o Líbano também enfrenta um cenário econômico pessimista e uma uma onda de fome jamais vista na longa história de tragédias que marca o país. De acordo com o Programa Mundial de Alimentos da ONU, os preços da cesta básica dispararam 628% no Líbano em apenas dois anos, criando uma situação de insegurança alimentar generalizada.
No mesmo período, a libra libanesa perdeu 90% do valor, minando por completo o poder de compra da população. Como resultado, três quartos em cada quatro libaneses vivem atualmente em situação de pobreza.