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“Pela primeira vez, os libaneses não sabem o que esperar da guerra”

Radicado no Brasil, o consultor egípcio Tamer Mansur, que está a passeio em Beirute, revela o impacto dos ataques no país

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 set 2024, 16h07 - Publicado em 29 set 2024, 15h57

Recém-casado, o consultor egípcio Tamer Mansour, de 51 anos, chegou ao Líbano em agosto para visitar os pais de sua mulher Rana Mahmoud. A família dela mora em Beirute, a maior cidade do Líbano, localizada em uma península do Mediterrâneo, que abriga o principal porto do país e a sede do governo libanês. Mansour estava aproveitando a viagem para fazer contatos de trabalho e ao mesmo tempo conhecer o local, que ele define como uma espécie de paraíso: “a reunião das melhores qualidades de três cidade brasileiras, Rio de Janeiro, Fortaleza e São Paulo”. Mas na semana passada o clima de lua de mel com o Líbano e com a esposa chegaram ao fim. “As explosões de milhares de pagers, de integrantes do Hezbollah, foram chocantes em Beirute e no sul do Líbano. Vimos pessoas perderem olhos, dedos e mãos”, conta ele horrorizado. “Muitas pessoas que não tinham nada a ver com o Hezbollah também sofreram.”

Somadas com as explosões dos walkie-talkies que vieram depois das dos pagers, o governo anunciou aos moradores que 4800 pessoas ficaram feridas. Sexta-feira, 27, foi o primeiro grande ataque no sul de Beirute, em Dahia, onde está a maior concentração de integrantes do grupo Hezzbollah, segundo Mansour. “Quando soubemos que o principal líder, Nassan Nasrallah, morreu, os libaneses aqui de Beirute ficaram em choque”, conta. A apreensão aumentou muito, porque todos consideravam que ele estava em segurança máxima. Nasrallah vivia escondido desde a última guerra entre Israel e o movimento islamista em 2006.

Os bombardeios aéreos contra as cidades libanesas são um desdobramento da campanha militar de Israel na Faixa de Gaza, território palestino ocupado por Tel-Avivi. Cerca de 700 pessoas já morreram. “Aqui ninguém mais sai de casa”, diz Mansour que acordou nesse domingo com o barulho dos aviões-caças passando em direção a Dahia, a pouco mais de sete quilômetros de onde ele está. “Os aviões passam por aqui várias vezes por dia.”

O consultor conta que enquanto os moradores se escondem em casa, saindo o mínimo possível, as ruas de Beirute estão cheias de “deslocados”. Pessoas que perderam as casas nos bombardeios e foram levadas para a cidade. Uma parte está alojada em escolas e hospitais desativados. Mas muitos ficaram sem teto e vagam pelo centro. “Os libaneses estão tomados de um sentimento de muita união, independentemente da religião de cada um. Todos tentam ajudar os desabrigados, seja levando para casa um parente, dando água ou comida.” Mansour não sabe dizer quanto tempo esse clima vai durar. Os parentes de sua mulher, pela primeira vez, desde o último conflito de 2006, não sabem o que esperar dessa guerra. Desejam uma trégua para que mais civis não percam a vida. Mansour pretende seguir para Dubai, mas só há passagens para sair do Líbano, independentemente do destino que se queira alcançar do mundo a partir do dia 10.

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