A partir desta quarta-feira, 21, quem quiser visitar espaços culturais ou de lazer para mais de 50 pessoas na França terá que apresentar um passe sanitário que consiste em uma prova de vacinação ou um teste negativo para o coronavírus.
A medida é a primeira parte de uma nova campanha contra o que o governo define como aumento “estratosférico” nos casos ligados à variante Delta, mais transmissível e identificada pela primeira vez na Índia. As restrições foram anunciadas pelo presidente Emmanuel Macron em 12 de julho, representando algumas das mais duras em vigor na Europa.
Durante o anúncio, ele disse: “A nossa escolha é simples: aplicar as restrições aos não vacinados em vez de aplicar a todos. É esse o sentido do passe de saúde”.
Notre choix est simple : faire porter les restrictions sur les non-vaccinés plutôt que sur tous.
C’est le sens du pass sanitaire qui sera étendu. pic.twitter.com/Bk21ncGhNz— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) July 12, 2021
A exigência fez com que os franceses corressem até os postos de vacinação para receber as doses dos imunizantes. Na última quarta-feira, 14, o número de pessoas vacinadas em um dia foi recorde: 1,3 milhão de pessoas.
Inicialmente implementado por decreto, legisladores agora votarão em uma possível expansão do passe. O governo quer expandir as exigências para todos os restaurante e outras áreas da vida pública, além de exigir que todos os funcionários da área da saúde sejam vacinados. O projeto de lei que permitiria essas mudanças está com sessão marcada para debate nesta quarta-feira na câmara baixa do Parlamento.
Conforme a nova regra entrou em vigor nesta quarta-feira, turistas que chegaram a pontos famosos de Paris sem a preparação devida formaram filas para testes rápidos. Na Torre Eiffel, reaberta na semana passada, funcionários seguindo protocolos de segurança escaneavam códigos em celulares ou checavam certificados de vacina.
“O mundo está enfrentando uma nova onda, e nós precisamos agir”, disse o primeiro-ministro francês, Jean Castex, em entrevista à rede TF1. “Um passaporte sanitário é uma incitação à vacinação e um meio de deixar abertos, o maior tempo possível, os lugares que, sem o passe e com aumento da epidemia não poderiam estar abertos”, explicou.
A solução, segundo ele, consistem em “vacinação, vacinação, vacinação”, fazendo um apelo para que os franceses se vacinem e evitem novos lockdowns. Dos 18.000 casos positivos registrados no país na terça-feira, ele ressaltou que 96% envolviam pessoas que não foram vacinadas.
Ao todo, o país soma 5,8 milhões de casos, incluindo 112.000 mortes. Segundo dados apresentados pelo governo no sábado, 56% da população adulta do país já foram vacinados com ao menos uma dose, enquanto 45% receberam as duas doses.
Enquanto o governo já usa oficialmente a expressão “quarta onda” da epidemia, os impactos diretos sobre o sistema de saúde ainda são incertos. Apesar disso, o ministro da Saúde, Olivier Véran, alertou na terça-feira que “já houve um aumento, por 10 dias consecutivos, no número de internações” por Covid-19.
No entanto, as mudanças geraram resistência entre setores da população. Milhares foram às ruas durante o fim de semana, e o primeiro-ministro afirmou que o governo buscará aprovação da Corte Constitucional, o que pode adiar ainda mais o processo.
De acordo com o Ministério do Interior, 137 manifestações aconteceram no país, reunindo quase 114.000 pessoas no total. Dessas, 18.000 se concentraram em Paris.
Apesar da força dos protestos, uma pesquisa de opinião divulgada na sexta-feira pelo instituto Ipsos-Sopra Steria indicou que mais de 60% da população francesa concordam com a vacinação obrigatória de funcionários da saúde, assim como exigências do passe sanitário em alguns locais públicos.