O partido ultradireitista Liga, do ministro do interior Matteo Salvini, anunciou nesta sexta-feira, 9, uma moção de censura contra o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte. Até agora, a Liga apoiava o premiê e formava uma coalizão com a legenda antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5S) de Conte.
Salvini, que além de ministro do Interior é líder da Liga e vice-premiê, já tinha anunciado na quinta-feira que a aliança no governo estava quebrada e pediu eleições antecipadas devido às tensões e divergências sobre vários temas.
“Muitos nãos prejudicam a Itália, que necessita voltar a crescer e voltar a votar rapidamente. Quem perde tempo prejudica o país e só pensa na cadeira”, disse a Liga em comunicado divulgado após a apresentação da moção no Senado.
Salvini exigiu que os senadores e deputados retornem a Roma de férias para que Conte constate a falta de apoio no Parlamento e renuncie. Na sequência, o presidente do país, Sergio Mattarella, convocaria novas eleições.
Após a retirada do apoio da Liga ao governo, o primeiro-ministro tinha basicamente duas opções: apresentar a própria renúncia a Mattarella ou comparecer ao Parlamento para verificar o seu apoio, e optou pela segunda via.
Na noite de quinta-feira, Conte acusou Salvini de acabar com a coalizão para aproveitar o crescimento eleitoral após as eleições do Parlamento Europeu – nas quais a Liga foi o partido mais votado do país -, e antecipou que compareceria ao Parlamento italiano para cobrar explicações.
O Parlamento italiano está fechado neste momento. É esperada uma reunião dos porta-vozes nos próximos dias para convocar a sessão que votará a moção, a princípio no dia 20 de agosto, segundo a imprensa local.
Se Conte constatar que não tem o apoio das câmaras, pois provavelmente só conta com o M5S, deverá apresentar a renúncia ao presidente.
Caso Mattarella opte por dissolver o Parlamento e convocar eleições, o pleito deverá acontecer em um prazo mínimo de 45 dias e máximo de 70.
No entanto, essa não é a única opção do chefe de Estado. Mattarella pode cogitar formar um novo governo com a atual composição do Parlamento, montado após as eleições de 4 de março de 2018, ou designar um governo tecnocrata e provisório. Essa opção foi rejeitada tanto pela Liga como pelo M5S.
Segundo uma pesquisa realizada no dia 31 de julho pelo instituto Ipsos para o jornal Corriere della Sera e divulgada ontem, a Liga, de Salvini, obteria 36% dos votos nas próximas eleições gerais e alcançaria 50,6% em coalizão com os ultradireitistas Irmãos da Itália (7,5%) e Força Itália (7,1%). Salvini já anunciou que se candidatará às eleições como candidato a primeiro-ministro.
Um dos principais pontos de conflito entre a Liga e o M5S é a construção de uma linha de trem de alta velocidade subterrânea que ligaria a cidade de Turim à cidade francesa de Lyon.
O projeto multibilionário envolve cavar um túnel por baixo dos Alpes e é muito criticado por Conte pelos seus custos e implicações ambientais. Já Salvini argumenta que seria um grande investimento para o país, geraria empregos e diminuiria a emissão de gases geradores do efeito estufa, já que o trânsito de trens diminuiria a circulação rodoviária.
“Temos consciência que, após muitas coisas bem feitas, há muito tempo foram constatadas visões diferentes em temas fundamentais”, pronunciou-se a Liga em comunicado após o rompimento com o M5S.
“Há posturas divergentes em grandes obras, infraestrutura, desenvolvimento econômico, redução fiscal, aplicação das autonomias, energia, reforma da justiça e relação com a União Europeia”, completou o partido.
(Com EFE)