O papa Francisco recebe mais de cem bispos na quinta-feira, 21, no Vaticano, para quatro dias de discussões sobre como a Igreja Católica deve lidar e prevenir os abusos sexuais cometidos por seus sacerdotes. Francisco fará um pronunciamento final e, do encontro, medidas deverão ser adotadas para superar a maior crise do Catolicismo desde a Reforma Protestante, no século XVI.
O encontro se dará em um momento crítico para o Vaticano, que enfrentou recentemente casos agudos nos Estados Unidos, no Chile, na França e outros países. No último final de semana, o poderoso cardeal Theodore McCarrick, ex-arcebispo de Washington, recebeu a mais alta penalidade religiosa por ter abusado de um adolescente nos anos 1970.
McCarrick, de 88 anos de idade, foi o primeiro cardeal a ser removido do sacerdócio por abuso sexual. Ele já havia renunciado de sua posição no Colégio dos Cardeais em julho de 2018 por causa do escândalo. Na França, o arcebispo Luigi Ventura foi recentemente acusado de ter molestado um jovem funcionário público em janeiro passado, na prédio da Prefeitura de Paris. O Vaticano informou que esperará a conclusão das investigações policiais para tomar providências.
Segundo o jornal The Guardian, o papa pediu orações dos católicos para a reunião e definiu o abuso sexual como “um desafio urgente do nosso tempo”, no domingo 17. “Nós temos de lidar com este tema com profundidade e sem medo”, afirmou o padre Federico Lombardi, presidente da Fundação Vaticana Bento XVI. “Se nós não nos comprometermos a lutar contra esses crimes, na sociedade e na Igreja, nós não estaremos exercendo nossos deveres completamente”, completou, referindo-se à resistência de parte dos bispos em tratar do assunto.
Além de 115 bispos que presidem conferências episcopais em seus países, o vaticano convidou líderes das igrejas católicas Ortodoxas e 10 representantes de ordens religiosas femininas. Recentemente, o jornal oficial do Vaticano, o Osservatorio Romano, publicou reportagem especial sobre os abusos sexuais cometidos por padres e bispos a freiras, transformadas em escravas sexuais deles.
Segundo o Guardian, o Vaticano instruiu os bispos a se reunirem previamente com vítimas de abusos sexuais cometidos por sacerdotes antes do encontro de Roma, quando haverá testemunhos de vários deles. Organizações em defesa das vítimas deverão se concentrar, em vigília, do lado de fora.
Acusado no ano passado de não conduzir propriamente a crise causada pelos abusos sexuais na Igreja, o papa Francisco anunciou em dezembro que essa questão nunca mais será encoberta e que todos os esforços serão feitos para levar os criminosos à Justiça. “Virem-se com a Justiça dos homens e preparem-se para a Justiça divina”, afirmou, em aviso aos acusados de cometer “abominações”.