O papa Francisco fez uma nova série de críticas à Rússia por sua ofensiva na Ucrânia, mas insinuou que a guerra pode ter sido provocada pelo Ocidente.
Em entrevista ao jornal italiano Civilta Cattolica publicada nesta terça-feira, 14, o pontífice condenou as ações das tropas russas como “brutais, cruéis e ferozes”, mas observou a indústria de armamentos entre os fatores que incentivam o conflito.
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“Não devemos esquecer os problemas reais se queremos que eles sejam resolvidos”, disse Francisco. O sacerdote também revelou que ouviu de uma autoridade, vários meses antes da invasão russa, que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estaria “latindo nos portões da Rússia”, de modo que poderia levar à guerra.
“Nós não vemos todo o drama se desenrolando por trás dessa guerra, que talvez tenha sido de alguma forma provocada ou não evitada”, observou o Papa.
Quando questionado se essa declaração o tornava favorável às demandas do presidente da Rússia, Vladimir Putin, Francisco negou. “Seria simplista e errado dizer uma coisa dessas”, concluiu.
O pontífice aproveitou para exaltar a coragem dos ucranianos, que, contrariando todas as estimativas de duração do conflito, estão resistindo às ofensivas do inimigo há mais de 110 dias.
“Eles [os russos] calcularam mal. Encontraram um povo corajoso, que luta para sobreviver e que tem um histórico de luta”, pontuou.
Francisco disse ainda que pretende se encontrar com o líder da Igreja Ortodoxa Russa, o patriarca Cirilo, em um evento no Cazaquistão em setembro. No mês passado, o papa se envolveu numa polêmica ao chamar outro líder da entidade religiosa de Moscou de “coroinha de Vladimir Putin”.
Desde o início da guerra, o sacerdote católico tem se posicionado como um mediador na busca pela paz, tendo inclusive declarado sua intenção de visitar a Ucrânia e proposto um encontro com Putin.