Em fala a encontro privado em Portugal com membros da ordem jesuíta, o papa Francisco lamentou e chamou a Igreja Católica dos Estados Unidos de “reacionária”, acrescentando que, no país, a fé é substituída por ideologia política em alguns casos. Os comentários foram feitos em 5 de agosto, durante viagem do pontífice a Lisboa, para a Jornada Mundial da Juventude, mas só foram publicados nesta segunda-feira, 28.
Numa sessão de perguntas e respostas, um jesuíta português disse que, durante um período sabático nos Estados Unidos, ficou triste porque muitos católicos, incluindo alguns bispos, eram hostis à liderança do papa.
“Vocês viram que nos Estados Unidos a situação não é fácil: há uma atitude reacionária muito forte. Ela é organizada e molda a forma como as pessoas pertencem, até mesmo emocionalmente”, respondeu o papa.
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Nos 10 anos desde que se tornou papa, Francisco tem sido criticado por setores conservadores da Igreja dos EUA que se opõem a reformas que o pontífice se demonstrou a favor. Autoridades católicas americanas criticam dar mais papéis às mulheres e aos leigos católicos e tornar a Igreja mais acolhedora e menos crítica em relação a alguns grupos, incluindo pessoas LGBTQIA+.
Os conservadores religiosos nos Estados Unidos frequentemente se alinham com meios de comunicação social politicamente conservadores. Essa influência é utilizada para criticar o papa em relação a uma série de questões, como mudanças climáticas, imigração, justiça social, controle de armas e pena de morte.
Um dos mais ferozes críticos norte-americanos do papa, o cardeal Raymond Burke, radicado em Roma, escreveu na introdução de um livro recente que uma reunião de bispos convocada por Francisco para outubro deste ano para ajudar a traçar o futuro da Igreja corria o risco de semear “confusão, erro e divisão”.
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“Você esteve nos Estados Unidos e disse que sentiu um clima de fechamento. Sim, esse clima pode ser vivenciado em algumas situações”, disse Francisco. “E aí, pode-se perder a verdadeira tradição e recorrer a ideologias em busca de apoio. Por outras palavras, a ideologia substitui a fé, pertencer a um setor da Igreja substitui pertencer à Igreja.”
Francisco disse que os seus críticos deveriam compreender que “há uma evolução apropriada na compreensão das questões de fé e moral” e que olhar para trás é “inútil”. Como exemplo, ele disse que alguns pontífices, séculos atrás, eram tolerantes com a escravidão, mas a Igreja evoluiu.