Países em desenvolvimento devem ao menos U$ 1,1 bilhão de (cerca de R$ 5,3 bilhões) à China. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira, 6, pelo laboratório de investigação universitário americano AidData e mostram que grande parte das cobranças já estão vencidas. O levantamento revela também que 80% dos empréstimos chineses são destinados a Estados que enfrentam dificuldades financeiras.
Os investimentos fazem parte da “Iniciativa Cinturão e Rota”, lançada há uma década pelo presidente da China, Xi Jinping. O projeto financia a construção de estradas, aeroportos, linhas ferroviárias e centrais de eletricidade desde a América Latina e até o Sudeste Asiático. Como consequência, levou ao crescimento econômico aos beneficiados, de forma a aproximá-los a Pequim e a tornar o gigante asiático no maior credor do mundo.
Em contrapartida, o plano cedeu uma série de concessões consideradas irresponsáveis a nações que talvez não tivessem os meios para cobri-los no futuro, culminando em um amplo endividamento. Segundo os dados da AidData, que analisou mais de duas décadas dos financiamentos chineses em 165 países, 55% dos empréstimos entraram nas épocas de pagamento, em um contexto de altas taxas de juros, enfraquecimento das moedas locais e estagnação do crescimento global.
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“Muitos destes empréstimos foram emitidos durante [o Cinturão e Rota] e vieram com períodos de carência de cinco, seis ou sete anos… e então [os esforços internacionais de suspensão da dívida durante a pandemia] acrescentaram dois anos adicionais, em que os mutuários não tiveram que pagar”, explicou o diretor executivo da AidData e autor do relatório, Brad Parks, à emissora CNN.
“Agora a história está a mudar… durante a última década, a China foi o maior credor oficial do mundo, e agora estamos neste ponto crucial em que se trata realmente [da China] de ser o maior cobrador oficial de dívidas do mundo”, acrescentou.
A sondagem, que levou em consideração o período entre 2000 e 2021, joga luz sobre as opacas atividades financeiras de Pequim através de informações oficiais e de fontes públicas voltadas para o setor. Ao todo, os governos devedores precisam quitar entre 1,1 bilhão e 1,5 bilhão de dólares à administração de Xi.
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Além disso, a AidData indica que Pequim lidava com apenas 10 Estados com problemas financeiros em 2008, número que cresceu para 57 em 2021. Em reflexo, os incentivos em infraestrutura no exterior caíram progressivamente, em um declínio de 34% nos últimos sete anos. A queda é apenas parte de um amplo cenário de precaução chinesa: o financiamento chegou à casa dos 100 bilhões de dólares em 2020 pela primeira vez desde 2014.
Nesse ano, 58% dos empréstimos foram de resgate de emergência, no qual nações em dificuldades recebem crédito para evitar maiores desgastes, possibilitando o pagamento de dívidas para credores espalhados ao redor do globo. Segundo a AidData, esse resultado mostraria que a China agora ocupa o posto de “gestor de crises internacionais”.