O proeminente opositor russo Alexei Navalny acusou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de estar “por trás” de seu envenenamento, na primeira entrevista concedida desde que recebeu alta de um hospital da Alemanha, mas disse não estar com medo e que irá voltar ao país para retomar sua campanha de ativismo.
“Afirmo que Putin está por trás do ato, não vejo outra explicação”, declarou à revista alemã Der Spiegel, que publicou nesta quinta-feira, 1, trechos da entrevista em seu site.
“Meu dever agora é continuar sendo como sou, alguém que não tem medo. E não tenho medo, afirmou o principal opositor do Kremlin.
Navalny também confirmou a intenção de retornar à Rússia quando estiver totalmente recuperado, de acordo com o semanário alemão, que publicará nas próximas horas a entrevista na íntegra.
“Minha tarefa agora é continuar sem medo. E eu não tenho medo! Se minhas mãos estão tremendo, é por conta do veneno, não pelo medo. Não darei a Putin o presente de não voltar”, afirmou. “Você não sente nenhuma dor, mas sabe que está morrendo”, disse Navalny sobre o momento em que o agente nervoso começou a fazer efeito.
Não é a primeira vez que agente um químico é usado para este fim nos últimos anos. Em 2018, o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha foram envenenados com Novichok após saírem de casa na cidade de Salisbury, no Reino Unido.
O Novichok, palavra em russo para “novato”, representa um grupo de substâncias neurotóxicas desenvolvidas pela União Soviética entre as décadas de 1970 e 1980, criadas sobretudo para tentar driblar a detecção por parte de inspetores internacionais. Assim como outros agentes nervosos, a substância age bloqueando mensagens dos nervos para os músculos, gerando colapso de funções corporais. Em doses altas, pode provocar convulsões e interromper a respiração.
Investigações
Ativista da luta contra a suposta corrupção das elites russos, Navalny, de 44 anos, passou mal a bordo de um avião na Sibéria em 20 de agosto. Três laboratórios europeus afirmaram que ele foi vítima de um envenenamento com uma substância neurotóxica do tipo Novichok.
A equipe de Navalny afirma que foram encontrados vestígios de Novichok em uma garrafa retirada de seu quarto de hotel na Sibéria, onde estava para participar da campanha de apoio aos candidatos de oposição nas eleições locais. Há algumas semanas, durante uma conversa com o presidente francês Emmanuel Macron, Putin descreveu o líder opositor com desprezo, segundo o jornal Le Monde.
Putin afirmou que Navalny já havia inventado problemas de saúde no passado e cometeu atos ilegais. Ele também justificou a ausência de uma investigação oficial na Rússia sobre o ocorrido, porque as autoridades de Berlim e Paris não enviaram a Moscou as análises efetuadas em seus laboratórios.
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Clique e AssineVários países ocidentais exigiram uma investigação formal por parte de Moscou, que nega todas as acusações. O opositor chegou a ser visitado no hospital por figuras como a chanceler alemã, Angela Merkel.
O líder opositor recebeu alta na semana passada do hospital de Berlim em que passou um mês internado. Navalny permanecerá na Alemanha durante o período de recuperação, que, segundo a sua porta-voz, “levará muito tempo”.