O opositor cubano Yunior García, um dos organizadores da manifestação frustrada pelo governo de Cuba na última segunda-feira, desembarcou na Espanha nesta quarta-feira, 17, confirmaram à agência de notícias Efe fontes da dissidência cubana na Espanha e do governo espanhol. Ele entrou no país europeu junto com a esposa em um voo comercial, usando visto de turista, afirmaram as fontes.
A informação coloca um fim às dúvidas sobre o paradeiro do ator e dramaturgo de 39 anos, desconhecido desde domingo, quando foi impedido de fazer uma marcha solitária por Havana. Na segunda-feira, ele supostamente ficou recluso em sua casa na capital, bloqueado por agentes de segurança de Cuba e fora do alcance da imprensa devido a uma bandeira cubana que cobria o edifício.
Em comunicado, o governo cubano afirmou nesta quarta-feira que não houve qualquer acordo com a Espanha para facilitar que García deixasse território cubano. O governo também negou que o opositor tenha sido forçado a deixar o país, como denunciado pela oposição após outros ativistas deixarem Cuba nos últimos meses.
García incomodou o governo cubano ao dar um rosto à iniciativa da plataforma virtual Archipiélago de protestar no dia 15 de novembro para pedir mudança política, liberdade de expressão e a libertação de “presos políticos”. Ele também foi uma das vozes mais ativas dos protestos sem precedentes em julho.
O objetivo da manifestação, segundo o ativista, era “sacudir o país, fazer com que as pessoas tomem consciência e gerar um debate que provoque mudanças”, o que esperava que ocorresse “da maneira mais pacífica e cívica possível”.
Os protestos, no entanto, não ocorreram como o esperado, à medida que o governo agiu rápido para abafá-los, colocando militares nas ruas e isolando opositores em suas casas.
Quando o horário combinado pelos organizadores se aproximava, policiais armados foram em grande número para as ruas de Havana, fazendo patrulhas em quase todas as esquinas da capital. Com medo, poucas pessoas compareceram aos protestos, e alguns postaram fotos nas ruas vestidos de branco – cor de oposição ao governo.
Os organizadores esperavam a mesma comoção dos cubanos em julho, que se reuniram em manifestações espontâneas, que não ocorriam há décadas. Pelo menos uma pessoa foi morta durante os protestos na época, com dezenas de feridos e 1.270 presos.
Mais de 650 manifestantes continuam presos quatro meses depois dos atos, de acordo com o grupo de direitos humanos Cubalex.
Na segunda-feira, 15, familiares e amigos de opositores presos pelo regime também foram detidos, assim como organizadores dos protestos. Entre os detidos estavam Manuel Cuesta Morua, Berta Soler, a líder do movimento dos direitos das Damas de Brancos, e seu marido, Angel Moya, um ex-prisioneiro político.