Na quinta-feira 6, a Assembleia-Geral das Nações Unidas rejeitou uma proposta dos Estados Unidos para condenar o movimento palestino Hamas por disparar mísseis contra Israel. É um golpe para a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, que havia colocado a medida como ponto alto de seu mandato.
A resolução obteve 87 votos a favor, ficando abaixo da maioria de dois terços exigida para sua adoção. Cinquenta e sete países se opuseram à medida e 33 se abstiveram. Em declarações prévias à votação, Haley caracterizou a proposta como uma oportunidade para os 193 países membros da Assembleia se colocarem do lado da “verdade e equilíbrio.”
Lideranças do Hamas exaltaram a derrota da resolução como uma “bofetada” na administração americana e símbolo de afirmação do que chamaram de legitimidade da resistência palestina contra Israel.
Moussa Abu Marzouk, segundo chefe do Hamas, disse que a rejeição constitui reconhecimento internacional do “direito de lançar mísseis e confrontar as agressões” israelenses.
Representantes do Fatah, movimento de oposição ao Hamas liderado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmoud Abbas, também comemoraram o resultado.
“Vitória sequestrada”
O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, caracterizou a votação como uma “vitória sequestrada” pelos palestinos “por uma manobra política”, referindo-se à exigência de dois terços dos votos, em substituição à maioria simples. Ele elogiou os membros que apoiaram a medida e disse que os que se opuseram deveriam se envergonhar. “Esperem até precisar lidar com o terrorismo em seus próprios países. O silêncio em frente ao mal revelou sua verdadeira face.”
A resolução, que condenaria o uso de mísseis e outras armas contra civis israelenses, demandava um cessar-fogo do Hamas e outros grupos militantes palestinos e era meramente simbólica.
Negociações de paz estão paralisadas enquanto a administração de Donald Trump finaliza uma proposta secreta, liderada pelo conselheiro da Casa Branca e genro do presidente americano, Jared Kushner.
Os diplomatas das Nações Unidas, incluindo aliados dos Estados Unidos, vêm sendo mantidos no escuro sobre os detalhes da proposta. Ainda não foi anunciado quando Kushner pretende divulgá-la.
Trump assume posição pró-Israel em suas medidas de governo, o que dificulta a negociação. Em 2017, ele anunciou que mudaria a embaixada americana em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, o que causou preocupação entre os palestinos, que se esforçam para estabelecer o leste de Jerusalém como capital de um futuro Estado.
Em agosto deste ano, o governo dos Estados Unidos também decidiu cortar a verba para a agência das Nações Unidas que oferece ajuda humanitária para milhões de palestinos classificados como refugiados.
O genro de Trump foi central na decisão, argumentando que cortar a ajuda colocaria pressão para que os palestinos negociassem. À época, Nikki Haley declarou que o corte era uma punição para líderes palestinos que continuamente “batem” nos Estados Unidos.
Aprovação inédita
Antes da votação de quinta, Haley disse que “a resolução proposta pelos Estados Unidos poderia corrigir um erro histórico”. “Mais importante ainda, colocaria a Assembleia-Geral do lado da verdade e daria equilíbrio ao esforço para se obter a paz no Oriente Médio”, completou.
Embora as Nações Unidas já tenham votado várias vezes pela condenação de Israel, o grupo nunca aprovou uma resolução crítica ao Hamas, organização que Haley descreveu como sendo um dos “mais óbvios e grotescos casos de terrorismo no mundo.”
A embaixadora, que deixará o cargo no fim do ano, denuncia frequentemente a ONU por ter uma posição anti-israelense e defendeu Tel -Aviv em seu último confronto contra o Hamas, o grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza desde 2007.
Em breve a Assembleia votará uma medida redigida pelos palestinos e apresentada pela Irlanda que pede “a obtenção, sem demora, de uma paz ampla, justa e duradoura no Oriente Médio” baseada nas resoluções da ONU.