O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou nesta quarta-feira, 8, que o número de civis mortos no conflito entre Israel e o grupo militante palestino Hamas em Gaza aponta para um erro na atuação das Forças de Defesa Israelenses (IDF).
“Há violações por parte do Hamas quando eles têm escudos humanos. Mas quando olhamos para o número de civis que foram mortos nas operações militares, há algo que está claramente errado”, disse Guterres à agência de notícias Reuters.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, 10.569 pessoas já foram mortas na região desde que Israel decidiu responder ao ataque surpresa do grupo extremista, realizado no dia 7 de outubro, e responsável pela morte de 1.400 pessoas e que fez mais de 240 reféns.
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“Também é importante fazer Israel compreender que é contra os seus próprios interesses ver todos os dias a terrível imagem das dramáticas necessidades humanitárias do povo palestino. Isso não ajuda Israel em relação à opinião pública global”, apontou o secretário-geral.
Ele reforçou que apesar de condenar as ações do Hamas, é preciso distinguir os militantes do povo palestino, sob o preço da “própria humanidade perder o seu significado”.
A autoridade das Nações Unidas chamou atenção mais uma vez para o número de crianças mortas na cidade sitiada. Nesta segunda-feira, Guterres declarou que Gaza estava se tornando “um cemitério para crianças”.
“Temos em poucos dias em Gaza milhares e milhares de crianças mortas, o que significa que também há algo claramente errado na forma como as operações militares estão sendo realizadas”, acrescentou.
Ao definir situação humanitária em Gaza como “catastrófica”, e dizer que 92 funcionários da ONU que trabalhavam no local foram mortos, ele reiterou os pedidos por um cessar-fogo.
“É absolutamente essencial ter um fluxo de ajuda humanitária para Gaza que corresponda às necessidades dramáticas que a população enfrenta”, disse Guterres.
Embora acredite que seja cedo para falar sobre o que vai ser de Gaza após o conflito, o secretário descreveu que o melhor cenário seria uma Autoridade Palestina “revigorada” no controle político do lugar, e reconheceu a necessidade de um período de transição e de discussões sobre o tema na comunidade global.
“Várias entidades podem desempenhar um papel. A ONU pode desempenhar um papel. Vários países que são relevantes na região podem desempenhar um papel. Os Estados Unidos podem desempenhar um papel”, concluiu Guterres, que acredita que este seja o ponto de partida para uma negociação séria para encontrar uma solução séria para palestinos e israelenses.
As declarações surgem pouca mais de uma semana depois que o diretor do escritório em Nova York do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Craig Mokhiber, pediu demissão pelo que chamou de “genocídio” cometido por Israel na Faixa de Gaza.
“Mais uma vez estamos vendo um genocídio se desenrolando diante de nossos olhos e a organização que servimos parece impotente para detê-lo”, escreveu Mokhiber em uma carta endereçada ao alto comissário da ONU em Genebra, Volker Turk.