Cerca de metade de todos os episódios de violência contra migrantes africanos em direção à Europa é causada por autoridades de segurança públicas europeias e africanas, denunciou nesta quarta-feira, 29, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Em parceria com o Conselho Dinamarquês de Refugiados, o Acnur publicou um relatório apontando que milhares de migrantes, sejam refugiados ou não, sofreram abusos extremos, incluindo tortura, violência sexual. Em alguns dos casos, os abusos resultaram em morte.
“Em 47% dos casos, as vítimas relataram que os autores da violência são autoridades policiais, enquanto no passado acreditamos que eram principalmente contrabandistas e traficantes”, disse Vincent Cochetel, enviado especial do Acnur para o Mediterrâneo.
“Os Estados têm uma responsabilidade que precisam cumprir a esse respeito”, acrescentou Cochetel.
O relatório é baseado em cerca de 16.000 entrevistas com migrantes.
Segundo o Acnur, cerca de 1.750 pessoas morreram em 2018 e 2019 tentando chegar ao Mar Mediterrâneo. Cochetel, no entanto, alertou que os números verdadeiros podem ser maiores.
“Essa é apenas a ponta visível do iceberg. Há muitas famílias procurando seus entes queridos ao longo das rotas, e não há resposta para dar a eles ”, disse o enviado especial.
Nos últimos meses, centenas de migrantes foram parados por autoridades europeias no Mediterrâneo. Em alguns casos, os migrantes são enviados de volta à África, em especial à Líbia — país que costuma ser o ponto de saída para africanos que seguem em direção à Europa —, apesar do alto risco de violência no país, que está em guerra civil há quase uma década.
Na segunda-feira 27, as autoridades líbias mataram três imigrantes sudaneses que tentavam evitar a detenção ao desembarcarem de uma tentativa fracassada de atravessar o mar.
Sob condições precárias de acolhimento e de atenção sanitária, a Líbia abriga cerca de 654.000 migrantes africanos que tentam chegar à Europa.
(Com Reuters)