Pelo menos doze pessoas morreram na noite de quinta-feira após episódios de violência em Caracas, na Venezuela, em meio à crise política por que passa o país, disseram autoridades nesta sexta-feira. Com isso, o número de vítimas nas manifestações das últimas três semanas no país pode chegar a 21.
A maior parte das mortes aconteceu em El Valle, bairro popular da capital próximo à maior base militar do país. Segundo líderes da oposição, pelo menos 13 pessoas foram eletrocutadas ao tentar saquear uma padaria protegida por uma cerca elétrica. Segundo informações do Ministério Público, as vítimas eram homens entre 17 e 45 anos. O órgão informou que outras seis pessoas se feriram.
Noite de violência
Na quinta-feira, as ruas de Caracas foram invadidas por protestos contra Nicolás Maduro convocados por opositores ao governo. As manifestações culminaram em uma noite de violência, em que moradores de diversos bairros testemunharam tiroteios e saques. Segundo a imprensa local, os moradores de El Valle testemunharam tiroteios, barricadas com lixo que foi incendiado e pelo menos uma dezena de saques a estabelecimentos comerciais.
“Parecia uma guerra. A Guarda e a polícia usavam gás, civis armados atiravam contra os edifícios. Minha família e eu nos jogamos no chão. Foi horrível. Conseguimos dormir depois que tudo acabou às três da madrugada”, disse Carlos Yánez, de 33 anos, morador de El Valle, à Agência France-Presse.
Um dos incidentes que provocou reações exaltadas aconteceu em um hospital que leva o nome de Hugo Cháves, ex-presidente do país. Segundo relatos, no meio da confusão, mães com filhos recém-nascidos precisaram fugir da maternidade tomada por bombas de gás lacrimogêneo. O chanceler Delcy Rodríguez escreveu em sua conta no Twitter que “grupos contratados pela oposição armada” atacaram o hospital infantil durante a noite, forçando as autoridades a evacuar o lugar, mas não deu mais detalhes. A oposição afirma que a violência foi promovida pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e por grupos paramilitares do governo.
“Nós não temos bombas de gás lacrimogêneo, quem as possui são os funcionários da GNB e os paramilitares do governo”, disse José Guerra, em coletiva de imprensa ao lado de vários dirigentes da plataforma antichavista Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Protestos
Desde o final de março, Caracas e outras cidades da Venezuela registram protestos quase diariamente que já deixaram, além dos 21 mortos, centenas de feridos e muitos detidos. As tensões foram reativadas após duas sentenças emitidas pelo Supremo Tribunal de Justiça contra a Assembleia Nacional, controlada pela oposição desde 2016. As decisões foram revertidas mas os protestos continuaram.
A coalizão de oposição, principal promotor dos protestos, reiterou que vai manter ações de rua até que sejam convocadas eleições gerais, que um canal humanitário seja aberto e que os presos políticos sejam libertados. O líder da oposição e ex-candidato presidencial, Henrique Capriles, acusa o governo de enviar forças de segurança para reprimir com violência os protestos.
O presidente Nicolás Maduro reiterou nesta quinta-feira que a oposição promove um golpe de Estado e anunciou que vai processar Capriles por acusar o governo e o corpo de segurança de se exceder na repressão dos protestos. Ele acrescentou que o opositor “tem de ir para a prisão, que vá para a cadeia e pague por sua difamação, calúnia e todos os crimes que cometeu”.
Economia
No plano econômico. a Venezuela está em queda livre desde o colapso dos preços do petróleo em 2014. O generoso programa de bem-estar financiado pelo petróleo criado pelo líder socialista Hugo Chávez, antecessor de Maduro, deu lugar a uma economia marcada pela escassez de produtos e inflação de três dígitos.
A raiva pública com a situação cresceu no mês passado quando a Suprema Corte, tida como próxima do governo, assumiu poderes do Congresso. Os protestos cresceram quando o governo impediu que o líder da oposição, o candidato presidencial duas vezes Henrique Capriles, de ocupar cargo público.
(Com Reuters, AFP, e Estadão Conteúdo)