O assessor especial para relações exteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim, voltou a afirmar a posição do governo de que a paz na Ucrânia depende, também, de demandas da Rússia. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, ele afirmou que o Ocidente deve levar “em conta” as preocupações de segurança russas.
Ele que foi ministro das Relações Exteriores durante os dois primeiros mandatos de Lula agora atua como uma espécie de chanceler-sombra, mais propenso a emitir opiniões claras que o diplomata médio. Ao FT, Amorim falou, sem papas na língua, que a postura beligerante do Ocidente contra Moscou corre o risco de provocar um conflito mais amplo.
“Não queremos uma terceira guerra mundial. E mesmo que não tenhamos isso, não queremos uma nova guerra fria”, disse.
O assessor especial completou que “todas as preocupações dos países da região devem ser levadas em consideração, se você quer a paz”.
“A única outra alternativa é a vitória militar total contra a Rússia. Você sabe o que vem depois? Eu não”, afirmou ao FT.
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Amorim declarou ainda que a segurança nacional é uma das principais “preocupações” de Moscou, referindo-se às suas queixas de “cerco” por parte das potências ocidentais e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Uma das justificativas do presidente russo, Vladimir Putin, para a invasão era a suposta tentativa da Ucrânia de aderir à aliança militar ocidental – o que não era verdade.
Na entrevista, ele concedeu que Kiev é “a vítima”, mas afirmou que é uma “vítima da Guerra Fria”.
Embora o Brasil tenha oficialmente condenado a invasão russa da Ucrânia por diversas vezes, Lula foi acusado de manter uma “neutralidade pró-Rússia”. O petista afirmou repetidamente que Kiev tem responsabilidade equivalente à de Moscou no conflito – embora sempre volte atrás e critique a “violação da integridade territorial – e, como reiterou Amorim durante a entrevista, acusou os Estados Unidos e a Europa de “prolongarem” a guerra ao fornecerem ajuda bélica e financeira a Kiev.
Os Estados Unidos responderam à acusação dizendo que o líder brasileiro estava “papagaiando a propaganda russa e chinesa”. Amorim garantiu que Brasília e Washington mantêm “boas relações”, mas disse ao FT que teme supostos “esforços ocidentais para enfraquecer a Rússia”, sugerindo que isso agravaria o conflito.
“Lembro-me da situação na Alemanha após a primeira guerra mundial: o objetivo era enfraquecer a Alemanha no [Tratado de] Versalhes e sabemos aonde isso levou”, provocou.
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Celso Amorim visitou a Rússia em abril, e Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores russo, devolveu o favor ao viajar a Brasília no mês passado. Só então, Lula enviou o assessor especial a Kiev, para um encontro com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky – que disse aguardar uma visita do próprio mandatário brasileiro em breve.
Um desencontro entre os dois na cúpula do G7 só desgastou ainda mais a relação. Segundo Brasília, a reunião foi cancelada por atraso do ucraniano que, por sua vez, alega que o fracasso do encontro não tem “nada a ver” com o governo de Kiev.
Desde que Lula voltou à presidência para um terceiro mandato, tem procurado consolidar a posição internacional do Brasil e Mauro Viera, ministro das Relações Exteriores de Lula, disse em entrevista às Paginas Amarelas de VEJA que o Brasil não terá “alinhamentos automáticos”.
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O presidente defende a formação de um “clube da paz” de nações para discutir o fim da guerra na Ucrânia. Em entrevista ao jornal espanhol El País, ele afirmou que os membros desse grupo precisam ser países que estejam menos “envolvidos” no conflito que as nações europeias e Washington, citando China, México e Indonésia nominalmente.
Como outros países latino-americanos, o Brasil se recusou a enviar armas para a Ucrânia e negou um pedido da Alemanha para revender munição para tanques.