Uma série de documentos vazados do Pentágono revela o quão profundamente os serviços de segurança e inteligência da Rússia foram infiltrados pelos Estados Unidos, demonstrando a capacidade de Washington de alertar a Ucrânia sobre ataques planejados e fornecendo uma avaliação da força da máquina de guerra de Moscou. As informações também mostram que os americanos estão espionando aliados importantes.
Os documentos vazados, datados do final de fevereiro e começo de março, começaram a surgir na semana passada e contêm detalhes dos planos dos Estados Unidos e da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) para fortalecer o exército ucraniano antes de uma contra-ofensiva,
Segundo o jornal americano The New York Times, analistas militares afirmaram que os documentos parecem ter sido modificados em relação ao seu formato original, aumentando as estimativas dos Estados Unidos de soldados ucranianos mortos na guerra e reduzindo as de baixas russas. As modificações sugerem um possível plano de desinformação de Moscou.
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Ainda assim, apontam para uma deficiência no Exército ucraniano, descrevendo a escassez crítica de munições de defesa aérea, e colocam em dúvida ganhos obtidos pelas tropas russas na cidade de Bakhmut, no leste do país.
Além da Rússia, os relatórios indicam que os EUA estão espionando os principais líderes militares e políticos da Ucrânia para entender as estratégias de combate de Kiev. Porém, a analise das informações vazadas demonstra que os americanos têm uma compreensão mais clara das operações militares russas do que do planejamento ucraniano. Apesar de por vezes coletar informações erradas, o conjunto de documentos vazados oferece a imagem mais completa do funcionamento interno da maior guerra terrestre na Europa em décadas.
O vazamento tem o potencial de causar danos reais ao conflito porque dá a oportunidade de Moscou cortar as fontes de informação. Especialistas dizem que é muito cedo para saber a extensão dos danos, mas se a Rússia for capaz de determinar como os EUA coletam esses dados e acabar com esse fluxo, o campo de batalha na Ucrânia pode ser impactado. Laços diplomáticos também podem ser afetados já que os relatórios apontam que os americanos também estão vigiando seus aliados, como a Coreia do Sul, cuja ajuda é necessária para fornecer armas à Ucrânia.
Os documentos foram vazados em fotos tiradas às pressas de pedaços de papel sobre o que parece ser uma revista de caça. Ex-funcionários que revisaram o material dizem que parece os documentos foram dobrados, colocados em um bolso e depois retirados em uma área segura para serem fotografados.
Na última sexta-feira, 7, o Federal Bureau of Investigation (FBI) abriu um inquérito para determinar a origem do vazamento. Um alto funcionário dos EUA chamou o vazamento de “uma enorme violação de inteligência” que expõe para a Rússia o quanto os americanos sabem sobre seus planos.
Outro alto funcionário dos EUA disse que rastrear a fonte original do vazamento pode ser difícil porque centenas, senão milhares, de militares e outros funcionários do governo dos EUA têm as autorizações de segurança necessárias para obter acesso aos documentos. Por isso, nos últimos dias o Pentágono está bloqueando a distribuição de documentos informativos altamente confidenciais.
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Um dos documentos relata que os russos sofreram de 189.500 a 223.000 baixas, incluindo até 43.000 mortos em ação. Já do lado ucraniano, o relatório vazado diz que, em fevereiro, a Ucrânia sofreu de 124.500 a 131.000 baixas, com até 17.500 mortos em ação.
Outro documento afirma que o Ministério da Defesa russo estava formulando planos para realizar ataques com mísseis contra as forças da Ucrânia em locais específicos em Odesa e Mykolaiv no dia 3 de março. No final de março, a Rússia alegou ter destruído um hangar contendo drones ucranianos perto de Odesa. Também no final de março, analistas militares independentes disseram que a Rússia atacou Mykolaiv e outras cidades ucranianas, mas chamou o bombardeio de rotina. Não está claro se os alertas fornecidos pelos EUA permitiram que os ucranianos tomassem medidas para mitigar os danos causados pelos ataques.
A primeira parte dos relatórios vazados foi publicada no Discord, uma plataforma de bate-papo popular entre jogadores de videogame. Nas semanas seguintes, foi reproduzida em fóruns como o 4chan, mas só ganharam atenção quando surgiram no Twitter e no Telegram nos últimos dias.