Uma reportagem do jornal britânico The Guardian publicada nesta segunda-feira, 9, destacou o “caos” e o “inferno de [Jair] Bolsonaro” na Amazônia, atingida por grandes queimadas. A matéria, ilustrada com muitas fotos de incêndios e cidades cobertas de fumaça em Rondônia, critica a postura do governo brasileiro para preservar a maior floresta tropical do mundo.
“Uma odisseia de 2.000 km de estradas e rios no Brasil revela consenso de todos os lados: Bolsonaro inaugurou uma nova era de destruição”, diz o subtítulo da reportagem, assinada pelo correspondente do jornal na América Latina, Tom Phillips.
Em sua viagem por Rondônia, o jornalista se deparou com uma queimada próxima à cidade de Palmeiras, no norte do estado. Phillips descreve um cenário que de longe assemelha-se a um tornado: “uma imensa coluna cinza se dispersando a centenas de metros da cobertura da floresta para os céus da Amazônia”.
“De perto é um inferno: um incêndio violento que destrói mais um trecho da maior floresta tropical do mundo, enquanto um rebanho de gado Nelore observa desnorteado”, narra a reportagem.
Segundo o The Guardian, a líderes indígenas, garimpeiros, ativistas ambientais e funcionários do governo acreditam que a retórica antiambiental do presidente Jair Bolsonaro contribuiu para o aumento dos incêndios e do desmatamento na Amazônia.
“Está um caos. Caos, caos, caos”, afirmou um funcionário Ibama sob condição de anonimato ao jornal britânico. “Se continuarmos assim, as coisas vão piorar cada vez mais”, previu.
“A vida nunca foi fácil para ativistas e agentes do governo que buscam retardar a destruição da floresta tropical em uma região vasta e muitas vezes sem lei que muitos ainda chamam de ‘faroeste’ do Brasil”, afirma a reportagem, que também denuncia o fechamento de escritórios do Ibama pelo governo Bolsonaro em Rondônia e o “desmantelamento do sistema de proteção ambiental” do país.
O The Guardian, contudo, ressalta a grande aprovação do presidente e de seu governo no estado – Bolsonaro foi eleito com 72% dos votos em Rondônia.
O governador Marcos Rocha e o deputado federal Coronel Chrisóstomo, ambos do PSL, ouvidos pela reportagem, negaram que o país esteja entrando em uma nova era de devastação na Amazônia e reafirmaram a soberania do país sobre a região, criticando qualquer interferência externa.
A floresta “pertence a uma nação que goza de total autonomia e autoridade para decidir o que acontece com ela e toma todo o cuidado possível para preservá-la”, afirmou Chrisóstomo.
“Esse apoio contrasta com o crescente desespero de muitos habitantes da floresta, cujas vidas foram totalmente revertidas na década de 1960, quando a ditadura militar brasileira destruiu partes da Amazônia para construir estradas”, diz a reportagem.
Queimadas e desmatamento
O aumento das queimadas na Amazônia atraiu atenção e críticas internacionais, como do presidente da França, Emmanuel Macron.
Segundo levantamento do WWF-Brasil, na Amazônia, 31% dos focos de queimadas registrados até agosto deste ano localizavam-se em áreas que eram floresta até julho de 2018.
Esse resultado revela que aproximadamente um em cada três focos de queimadas registrados em 2019 não tiveram relação com a limpeza de pastagens, mas sim com queimadas que sucederam o corte de áreas de floresta, no ciclo tradicional de corte e queima.
Historicamente, na Amazônia, o uso do fogo é um dos estágios finais do desmatamento após o corte raso da floresta. O levantamento do WWF-Brasil foi feito com base em séries históricas de imagens de satélite e em dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Segundo o próprio Inpe, o desmatamento na Amazônia aumentou 222% em agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em agosto deste ano foram desmatados cerca de 1.698 km² de floresta. No mesmo mês, em 2018, foram 526 km².