O Nobel da Literatura agraciou dois escritores na quinta-feira 10: a polonesa Olga Tokarczuk, de 57 anos, e o austríaco Peter Handke, de 76. Olga foi aclamada vencedora de 2018, ano em que a Academia Sueca suspendeu o prêmio ao se ver em meio a um escândalo de assédio sexual — que culminou com a condenação por estupro do marido de Katarina Frostenson, integrante da instituição.
A autora foi uma escolha ideal para limpar a barra da Academia. Ecologista e feminista, Olga foi psicóloga antes de se devotar à literatura. Seus romances bebem da história do Leste Europeu, com críticas políticas e elementos míticos. Voz contrária ao governo populista conservador de seu país, Olga é quase uma “Chico Buarque polonesa” — ao vencer o Nobel, porém, as autoridades locais tiveram educação suficiente para parabenizá-la no Twitter. No Brasil, dois livros seus serão lançados pela Todavia: Sobre os Ossos dos Mortos e Viagens (vencedor do Man Booker Prize).
Já Handke, que ficou com o prêmio de 2019, tem a reputação manchada. Apesar de aclamado por sua literatura humanista, especialmente por roteiros de filmes como Asas do Desejo (1987), parceria com o diretor alemão Wim Wenders, o austríaco foi amigo de Slobodan Milosevic, o líder sérvio conhecido como “Carniceiro dos Bálcãs” por seus crimes de guerra na dissolução da antiga Iugoslávia. Handke foi ao julgamento internacional de Milosevic em Haia e discursou em seu funeral. Nem bem saiu de uma encrenca, o Nobel de Literatura já entrou em outra.
Medicina
Laureados: o nefrologista britânico Peter Ratcliffe e os oncologistas americanos William Kaelin Jr. e Gregg Semenza.
Por que ganharam: pela pesquisa, divulgada em 1995, sobre como as células do corpo se adaptam de acordo com a disponibilidade de oxigênio.
Utilidade prática: a descoberta impulsionou o desenvolvimento de novas terapias contra cânceres e doenças cardiovasculares, entre outros males.
Física
Laureados: metade do prêmio foi concedida ao físico canadense James Peebles, enquanto a outra parte do valor ficou com os astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz.
Por que ganharam: os três contribuíram para o entendimento sobre a evolução do universo e o papel da Terra no cosmos, principalmente por meio da descoberta do primeiro exoplaneta — fora do sistema solar —, em 1995.
Utilidade prática: com estudos iniciados nos anos 1960, Peebles elaborou construções teóricas da cosmologia que previram a existência de um tipo de radiação que acabou por calcar a teoria do Big Bang. Mayor e Queloz foram os responsáveis pelo achado do planeta 51 Pegasi b, localizado a 50 anos-luz da Terra.
Química
Laureados: o físico americano John Goodenough e os químicos Michael Stanley Whittingham, da Inglaterra, e Akira Yoshino, do Japão.
Por que ganharam: pelo desenvolvimento de baterias de íons de lítio, em trabalhos executados entre as décadas de 70 e 90.
Utilidade prática: em razão das descobertas do trio, as baterias hoje são recarregáveis, mais leves e mais resistentes, principalmente as usadas em celulares e em carros elétricos.
Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656