O secretário americano de Estado, Mike Pompeo, confirmou nesta quinta-feira, 10, a retirada das tropas dos Estados Unidos da Síria e negou haver “contradição” na estratégia do presidente Donald Trump para o Oriente Médio. Pompeo, porém, não mencionou quando a retirada começará.
“O presidente Trump tomou a decisão de retirar nossas tropas. Vamos fazer isso”, disse ele para a imprensa no Cairo, acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shukry, sem mencionar um cronograma.
Anunciada por Trump em dezembro passado, a retirada de cerca de 2.000 soldados americanos mobilizados na Síria em combates ao grupo extremista Estado Islâmico (EI) é vista como contraditória. Os críticos da iniciativa argumentam que a decisão expressa falta de falta de estratégia da Casa Branca para lidar com o Oriente Médio.
Washington chegou a voltar atrás de sua decisão. O próprio Mike Pompeo e o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, alegaram que os objetivos no terreno estão longe de serem alcançados: a derrota completa do Estado Islâmico e a garantia de que os combatentes curdos que lutaram contra os jihadistas ao lado dos americanos serão protegidos.
Sobre este último ponto, nesta quinta-feira, a Turquia voltou a ameaçar com a adoção de uma ofensiva contra os curdos, que considera “terroristas”, se os Estados Unidos deixarem a Síria.
“Não há contradição”, insistiu Pompeo, para quem as críticas contra a iniciativa americana são “uma história fabricada pela mídia”. “Nosso compromisso de continuar a prevenir o renascimento do Estado Islâmico é real (…) Simplesmente vamos fazer diferente, em um local específico, a Síria”, completou.
Os Estados Unidos intervêm militarmente na Síria desde 2014, no âmbito de uma coalizão antijihadista, acrescentou o secretário de Estado. Em discurso na Universidade Americana do Cairo, Pompeo fez um chamado em favor da “superação das rivalidades pelo bem da região” ao referir-se ao Irã, país apontado por ele como o grande inimigo comum.
Pompeo insistiu que os Estados Unidos vão continuar a trabalhar por via diplomática para “expulsar” os iranianos da Síria, mesmo depois da retirada dos soldados americanos.
“Em apenas 24 meses, os Estados Unidos, sob a presidência de Trump, reafirmaram seu tradicional papel de força para o bem nesta região”, afirmou.
Em sua primeira viagem ao exterior desde sua chegada à Casa Branca, em 2017, Donald Trump definira em Riad, na Arábia Saudita, uma diretriz para sua política regional que envolveria a união dos aliados dos Estados Unidos contra o Irã xiita e o reforço da luta contra o Estado Islâmico.
Em paralelo, prometera alcançar um acordo de paz entre israelenses e palestinos – objetivo que nenhum de seus antecessores afetivamente alcançou. A transferência da embaixada americana em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em maio de 2018, tornou improvável a retomada de negociações durante seu mandato.
Desde então, as decisões da Casa Branca têm confundido vários parceiros dos Estados Unidos na região.
A retirada das tropas dos Estados Unidos da Síria, onde o Irã está envolvido militarmente ao lado do governo de Damasco, contraria a intenção declarada de frustrar a influência de Teerã e de proteger Israel.
Washington diz confiar em seus parceiros mais próximos, Jordânia e Iraque, para dar continuidade a essa tarefa. Pompeo esteve nos últimos dias em ambos os países e, no Egito, encontrou-se nesta quinta-feira com o presidente Abdel Fattah al-Sisi e representantes dos países do Golfo.
Ignorando as denúncias de violações de direitos humanos pelo governo egípcio, Pompeo disse que Sisi é “um parceiro forte na luta contra o terrorismo e uma voz corajosa na denúncia da ideologia radical islâmica que a alimenta”.
Erros
Pompeo afirmou em seu discurso no Cairo que os Estados Unidos aprenderam com seus “erros” no Oriente Médio, razão pela qual não voltarão a “descuidar” de seus aliados na região e seguirão apoiando-lhes na guerra contra o terrorismo.
“Quando os Estados Unidos se retiram, se produz o caos. Quando descuidamos de nossos amigos, o ressentimento aumenta. Quando nos associamos com inimigos, avançam”, disse Pompeo. “Os Estados Unidos não se retirarão até que o jihadismo tenha terminado”, disse Pompeo.
Pompeo valeu-se de boa parte de seu discurso para rebater a tese defendida por Barack Obama, em discurso dirigido aos muçulmanos em 2009, de um “novo começo” nas relações dos Estados Unidos com os países da região. “Ele (Obama) disse que os Estados Unidos e o mundo muçulmano necessitavam de um novo começo. E os resultados destes julgamentos errôneos foram terríveis”, argumentou o atual secretário de Estado.
O chefe da diplomacia americana acusou o governo Obama de “subestimar” as consequências da retirada das tropas do Iraque, em 2011, e lembrou que o Estado Islâmico matou “dezenas de milhares” de pessoas naquele país e chegou às portas de Bagdá. Pompeo assegurou que seu país é uma “força libertadora e não uma força de ocupação”, que se retira apenas “quando o trabalho terminou”.
O secretário de Estado começou sua viagem na terça-feira na Jordânia e também já passou pelo Iraque. A expectativa é que as próximas escalas sejam Bahrein, Catar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã e Kuwait.
(Com EFE)