Donald Trump se encontrou nesta quarta-feira, 25, com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em meio ao escândalo envolvendo a divulgação da transcrição de sua comprometedora conversa telefônica com o líder ucraniano e o início do processo de impeachment. Em entrevista à imprensa depois da reunião, Zelensky insistiu que “ninguém” o pressionou.
Segundo o ucraniano, a ligação telefônica com Trump foi “normal”, e os dois discutiram “muitas coisas”. “Eu não quero ser envolvido nas eleições democráticas abertas dos Estados Unidos”, disse, com a ajuda de um tradutor.
A reunião desta quarta já estava na agenda dos dois presidentes antes das revelações recentes. Mas, diante dos últimos acontecimentos, os líderes não conseguiram disfarçar a tensão durante o encontro. Em algumas das fotos, é possível ver Zelensky com uma clara expressão de nervosismo, enquanto Trump também parece preocupado.
No começo da conferência, o líder ucraniano, um ex-ator cômico, até arriscou uma piada para descontrair o ambiente. “É melhor estar na TV do que no telefone”, disse, em referência à sua conversa com o americano de julho passado.
Trump vem sendo acusado de ter pressionado o presidente da Ucrânia a investigar negócios do ex-vice-presidente americano Joe Biden, pré-candidato democrata à Casa Branca em 2020, e de seu filho Hunter no seu país. Nesta quarta-feira, a Casa Branca liberou a transcrição de sua conversa telefônica com Zelensky para provar que o americano não tinha dito nada “inadequado”.
Mas os documentos provaram que o presidente americano fizera realmente o pedido. Como não abarcou toda a conversa, as transcrições não incluíram a suposta ameaça de Trump a Zelensky de eliminar a assistência militar de 250 milhões de dólares dos Estados Unidos à Ucrânia, congelada pela Casa Branca semanas antes.
“Há muitas conversas sobre o filho do Biden, que Biden parou a Procuradoria-Geral (da Ucrânia), e muitas pessoas querem saber mais sobre isso. Então, o que você puder fazer com o secretário de Justiça (americano) seria ótimo”, dissera Trump a Zelensky na conversa de 25 de julho passado.
O caso
O telefonema de Trump para Zelensky girou em torno da suposta participação de Hunter Biden, filho de Joe Biden, em um esquema de corrupção na empresa energética ucraniana Burisma, quando atuava no conselho diretor da companhia.
Em 2014, Joe Biden teria pressionado o então líder da Ucrânia Petro Porosheko a demitir o procurador-geral, Viktor Shokin, que supostamente estava encarregado da investigação. Caso contrário, cortaria as garantias de crédito dos Estados Unidos para a Ucrânia, que enfrentava na época uma insurgência separatista no leste de seu território apoiada pela Rússia. Diante das suspeitas, Trump pediu a Zelensky que trabalhasse ao lado do secretário de Justiça americano, William Barr, para investigar as ações de Biden no país.
O jornal Kyiv Post, porém, informou que Hunter e Joe Biden não foram investigados na Ucrânia e que os processos criminais abertos na Justiça local envolviam a Burisma e seu dono, Mykola Zlochevsky. Também publicou que Shokin não participara desses casos e que sua demissão era solicitada por diferentes setores da sociedade por sua obstrução e omissão em investigações de corrupção.
Na conversa telefônica liberada nesta quarta-feira, Trump afirma que pediria ao seu advogado pessoal e ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani e a Barr que entrassem em contato com as autoridades ucranianas para discutir a questão.
“Nós vamos até o fundo da questão”, disse o presidente americano. “Eu ouvi que o procurador (ucraniano) foi tratado muito mal e que ele era um procurador muito justo”, diz.
Zelensky responde de forma positiva aos pedidos de Trump. “A questão da investigação é, na verdade, uma questão de se certificar de que a honestidade seja restaurada”, disse. “Então, nós vamos cuidar disso e vamos trabalhar na investigação do caso”.
Na terça-feira 24, a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, anunciou a abertura de um processo de impeachment pelo Congresso contra Trump por abuso de poder.