A Nigéria, que há 400 anos enviou milhares de escravos à América durante o tráfego negreiro, segue acorrentada a seu passado escravocrata. A polícia de Kaduna, cidade ao norte do país, encontrou 500 meninos e homens com marcas de tortura, famintos e sedentos. Todos estavam em um prédio de uma escola islâmica, sendo que um grande número deles se encontrava atado a correntes.
Segundo a polícia de Kaduna, o prédio foi invadido graças a uma denúncia anônima. O chefe da polícia, Ali Janga, descreveu o local como uma verdadeira “casa de tortura”, onde se pratica a escravidão humana. Janga contou que algumas das crianças têm apenas cinco anos. Duas delas vieram de outro país africano, Burkina Faso. Libertadas e sob custódia do governo local, agora elas aguardam a chegada dos pais.
O governo de Kaduna não sabe ainda como as crianças e homens foram parar ali. Mas oito pessoas foram presas, entre elas, professores da escola islâmica. Alguns dos meninos disseram que foram levados à escola islâmica pelos parentes, que acreditavam que ali aprenderiam lições do Corão. Supostamente, o local funcionava como uma espécie de reformatório religioso para jovens com problemas de drogas, segundo fontes do governo local.
Libertos, todos foram transferidos a um estádio nesta madrugada para serem identificados e as famílias serem contatadas. O governo nigeriano anunciou que irá prover exames médicos e psicológicos ao grupo.
De acordo com relatório de 2017 da organização de direitos humanos Walk Free Foundation e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a África segue como o continente onde há maior casos de escravidão: sete vítimas para cada 1.000 pessoas.
No norte da Nigéria, o grupo extremista Boko Horam, que tenta derrubar o governo para impor um estado islâmico por meio de ataques violentos, já realizou inúmeros sequestros de estudantes em escolas islâmicas. O mais famoso caso foi em 2014, quando os terroristas sequestraram 276 meninas. Na ocasião, muitas delas morreram no cativeiro.