A Nicarágua amanheceu nesta quinta-feira (14) em greve geral convocada por uma aliança opositora para pressionar o presidente do país, Daniel Ortega, a cessar a repressão contra as manifestações populares. Os protestos se intensificaram nas últimas semanas.
Em Manágua, a paralisação parecia geral, com ruas desertas, alguns ônibus de transporte público circulando vazios e a presença policial em vários pontos da cidade, reportou a Agência France-Presse.
Desde o início da onda de protestos, o balanço de vítimas é de 157 mortos e mais de 1.300 feridos, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh). Até a Igreja, mediadora do diálogo entre o governo e a oposição, acolheu a convocação de paralisação. A Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) convocou para esta sexta-feira (15) uma sessão para revelar a resposta de Ortega a sua proposta de democratização.
A paralisação de 24 horas foi convocada pela Aliança Nacional pela Justiça e Democracia, que agrupa empresários, estudantes e setores da sociedade civil, como forma de pressionar o governo a interromper os ataques violentos contra manifestantes e a população, realizados por forças antichoque e gangues pró-governo.
A Nicarágua vive um clima permanente de protestos desde 18 de abril, quando manifestantes saíram às ruas contra uma reforma previdenciária. Os protestos se estenderam como mostra de insatisfação popular com o governo de Ortega que, desde 2007, governa alo lado de sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo. Ortega e Rosario são acusados de autoritarismo e de controle abusivo dos poderes do Estado.
Supermercados, lojas, postos de gasolina e pequenos negócios em Manágua não abriram suas portas hoje. Nos colégios públicos, os professores ficaram esperando os alunos.
“Está tudo deserto, a população está apoiando a greve”, disse o taxista Pablo Ramírez, que desistiu de trabalhar por falta de passageiros.
O mercado popular oriental de Manágua, com mais de 20 mil bancas e 2.000 vendedores ambulantes, estava abandonado, cercado por barricadas para tentar proteger eventuais roubos e saques.
“O mercado está apoiando a paralisação. A esta hora, muitas lojas estariam abertas, mas como se vê está totalmente fechado”, disse Liliam Gámez, funcionária de uma loja local que foi trabalhar a pedido de seu patrão.
“A paralisação é para pressionar o governo a se sentar e dialogar para dar uma solução a essa crise”, disse Heriberto Ruiz, vendedor de doces do mercado. “Que Ortega saia pela porta da frente, e não pela dos fundos”, afirmou Ruiz, para quem a Nicarágua se tornou uma “terra de ninguém” com a violência e os roubos.
Tiroteios e mortes
A paralisação foi precedida por novos ataques na capital e na Universidade Autônoma da Nicarágua (Unan), a trincheira dos estudantes que protestam contra o governo, de acordo com a oposição. Também houve confrontos nas cidades de Jinotepe, Diriamba, León, Nagarote e Masatepe.
Nesta última, no Estado de Masaya, ataques de grupos paramilitares “deixaram quatro mortos e diversos feridos”, disse o secretário-geral da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH), Alvaro Leiva.
Já em Masaya, três motos com paramilitares armados entraram na cidade e “dispararam sobre as trincheiras”, deixando um baleado, indicou. A polícia deste antigo bastião do governo continua sitiada com barricadas, defendidas por jovens com pedras e morteiros caseiros.
Golpe econômico
A paralisação ameaça agravar a crise gerada por protestos e bloqueios. O setor privado, outrora aliado de Ortega, rompeu a aliança em meio aos violentos protestos.
“A economia produz 35 milhões de dólares diários, pode ser que nem tudo se paralise porque há atividades que não podem ser interrompidas”, explicou Mario Arana, diretor da Associação de Produtores e Exportadores da Nicarágua (Apen). Assim, ele estima que o país deixe de produzir entre 25 e 35 milhões de dólares em um dia de paralisação.
Com a crise, estimativas não oficiais indicam queda de 1% n Produto Interno Bruto (PIB) do país que, em termos de valor, chega a 800 milhões de dólares.