Uma reportagem do jornal americano The New York Times publicada no início do mês alega que o Partido Comunista Chinês (PCC) estaria patrocinando uma ampla campanha internacional como forma de defender e propagandear o governo do presidente da China, Xi Jinping. A rede estaria centralizada no milionário americano socialista Neville Roy Singham, mas contaria com o apoio de partidos políticos e de sites de notícias ao redor do globo, incluindo um brasileiro.
Segundo o NYT, o investimento de Pequim englobaria diferentes países, incluindo África do Sul, Brasil, Gana, Índia e Zâmbia, e seriam organizados por Singham, para que as discussões jornalísticas e políticas mesclassem a “defesa progressista com o governo chinês”. O financiamento ocorreria, então, por meio de organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos, que teriam doado ao menos US$ 275 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhões) para diferentes instituições.
Quatro recentes organizações sem fins lucrativos, como “United Community Fund” (Fundo Comunitário Unido) e “Justice and Education Fund” (Fundo para a Justiça e Educação), estariam no centro do subsídio da propaganda chinesa. Com nomes genéricos e endereços listados em caixas de correio, as instituições fornecem serviços postais para Illinois, Wisconsin e Nova York. Os grupos sem fins lucrativos dos EUA não são obrigados a divulgar doadores individuais. Portanto, os quatro estabelecimentos teriam sido utilizados como uma fonte invisível de financiamentos.
No Brasil, um dos portais citados pela reportagem é a agência de rádio e site de notícias Brasil de Fato, fundado em 2003. O veículo é detentor, ainda, de jornais regionais no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Pernambuco. O Times alega que o portal “intercala artigos sobre direitos à terra com elogios a Xi Jinping”.
Enquanto o portal de notícias indiano NewsClick foi fonte de investimentos para que tratasse de assuntos nacionais inserindo questões relacionadas à China, como indica um vídeo do site que relata que “a história da China continua a inspirar as classes trabalhadoras”, o sul-africano Partido Socialista Revolucionário dos Trabalhadores teria recebido quantias, centros de ensino e agências de notícias locais teriam recebido, ao todo, US$ 5,6 milhões (cerca de R$ 27,8 mihões). Sighman, no entanto, refuta ter participado de qualquer esquema envolvendo Pequim.
“Nego categoricamente e repudio qualquer sugestão de que sou membro, trabalho, recebo ordens ou sigo instruções de qualquer partido político ou governo ou seus representantes”, escreveu ele em um e-mail ao The New York Times. “Sou guiado apenas por minhas crenças, que são minhas opiniões pessoais de longa data.”