Em discurso após a reunião do gabinete de segurança de Israel que aprovou um acordo de cessar-fogo com o Hezbollah, o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, afirmou que suas forças militares “responderão com força” a qualquer violação do acordo pela milícia libanesa e que “a duração do cessar-fogo dependerá do que acontecer no Líbano”.
Em aparente tentativa de aplacar os ânimos de sua coalizão governista, cujos membros ultrarreligiosos de extrema direita eram contra o fim do conflito até que o Hezbollah fosse eliminado, Bibi afirmou que Israel vai manter “total liberdade de ação” contra o grupo armado, uma posição que contaria “com o entendimento total dos Estados Unidos“. Washington, junto à França, patrocinou a proposta de cessar-fogo recém-aprovada.
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“Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos”, ele prometeu. “Se tentar reconstruir a infraestrutura terrorista perto da fronteira, atacaremos. Se disparar um foguete, se cavar um túnel, se trouxer um caminhão com mísseis, atacaremos. A cada violação, responderemos com força”, completou.
O premiê israelense também atacou os críticos que argumentam que Israel não será capaz de recomeçar um confronto com o Hezbollah após um cessar-fogo, citando como exemplo a trégua com o grupo terrorista Hamas no ano passado, que paralisou hostilidades em Gaza por uma semana em novembro. “Depois de tudo isso, talvez seja hora de começar a acreditar. Acreditar em nossa determinação, do nosso jeito, em nossa dedicação à vitória.”
Segundo ele, a aprovação do cessar-fogo foi baseada em três motivos. O primeiro é que Israel precisa “focar na ameaça iraniana”, afirmou, sem dar mais detalhes. A segunda é permitir que os soldados descansem e reabasteçam os estoques de armas.
“Houve atrasos, e grandes atrasos, nas remessas de armas”, diz ele, sem mencionar o governo americano, seu principal fornecedor. “E esse atraso será liberado em breve”, completou, em aparente referência ao retorno de Donald Trump à Casa Branca, com sua posse em janeiro.
A terceira razão, de acordo com Netanyahu, é desvincular as linhas de frente do norte, no Líbano, e sul, em Gaza, para isolar o Hamas. “Com o Hezbollah fora de cena, o Hamas fica sozinho na campanha. Isso ajudará na missão sagrada de libertar nossos reféns”, disse ele.
Além disso, o líder israelense declarou que, depois de mais de um ano de luta, o Hezbollah “não é mais o mesmo”, afirmando que o grupo armado agora está “décadas atrás” em termos de organização, poderio bélico e influência. Ele observou que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) mataram o líder da milícia, Hassan Nasrallah, e grande parte de sua cúpula militar. Também eliminou “milhares de combatentes”, destruiu uma parcela significativa de seu arsenal foguetes e fechou uma série de túneis na fronteira.
O que propõe o acordo
A declaração de cessar-fogo, patrocinada pelos Estados Unidos e pela França, exige que os soldados israelenses se retirem do sul do Líbano, um reduto do Hezbollah, e que o exército libanês se posicione na região – tudo isso dentro de 60 dias. Assim, a poderosa milícia apoiada pelo Irã abandonaria a área da fronteira com Israel ao sul do Rio Litani.
Abdallah Bou Habib, o chanceler libanês, disse que o exército de seu país estaria pronto para colocar pelo menos 5 mil soldados no sul do Líbano em paralelo à retirada israelense, e que Washington pode desempenhar um papel na reconstrução da infraestrutura destruída pelos ataques israelenses.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, por sua vez, relembrou nesta terça que seu país exige a aplicação efetiva por parte da ONU de um eventual cessar-fogo e mostrará “tolerância zero” em relação a qualquer infração. O acordo mantém a liberdade das forças de Tel Aviv para operar na área da fronteira para agir em autodefesa contra “ameaças iminentes” e permitir que cerca de 60 mil cidadãos deslocados pelos constantes bombardeios do Hezbollah retornem às suas casas no norte israelense, segundo a Reuters.
As negociações para encerrar os combates se concentrou em restaurar a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, um mecanismo que pôs fim à última grande guerra entre o Hezbollah e Israel, em 2006.
Dados do conflito
A destruição generalizada no Líbano colocou em foco um enorme, e aguardado, projeto de lei para a reconstrução do país deficitário. Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas pelo conflito, e muitas estão desabrigadas. No último ano, mais de 3.750 libaneses foram mortos, de acordo com o Ministério da Saúde do país, que não faz distinção entre civis e combatentes do Hezbollah.
Ataques da milícia libanesa mataram 45 civis no norte de Israel e nas Colinas de Golã, ocupadas por Israel. Pelo menos 73 soldados israelenses foram mortos no norte israelense, nas Colinas de Golã e em combate no sul do Líbano, de acordo com autoridades de Tel Aviv.