‘Não concordamos em tudo’, mas parceria com Brasil é ‘sólida’, diz Noruega
Ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, deseja aproveitar encontro do G20 para ampliar diálogo com Brasília
O ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, disse nesta quarta-feira, 21, que a relação com o Brasil é “sólida”, apesar dos países não concordarem em todas as questões. Eide está no Rio de Janeiro para participar do encontro de chanceleres do G20, grupo das maiores economias do mundo que está sob presidência brasileira, até esta quinta-feira, 22. Ele também expressou que deseja ampliar o diálogo com Brasília para reduzir a desigualdade.
“A principal ambição do governo brasileiro com a presidência do G20 é reduzir a desigualdade. Temos sido um parceiro sólido no que diz respeito ao desmatamento e, não menos importante, o Brasil aprecia o papel que a Noruega desempenha em várias iniciativas de paz no mundo”, disse. “Isto não significa que concordamos em tudo, mas é um diálogo bom e significativo que esperamos desenvolver ainda mais para um mundo mais estável.”
A reunião dos ministros ocorre em meio à crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por um polêmico comentário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No domingo 18, o petista comparou o “genocídio” na Faixa de Gaza com o Holocausto cometido pelo regime nazista de Adolf Hitler, responsável pela morte de 6 milhões de judeus. A declaração enfureceu a comunidade israelense brasileira, bem como o governo de Israel, que declarou Lula persona non grata até que “retire o que disse”.
Na mesma data, a Noruega aprovou repasses financeiros para Israel e Palestina — sinal de que discordam no tema, embora Oslo tenha criticado a reação desproporcional de Tel Aviv após os ataques do Hamas, em 7 de outubro. Em outubro, o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, reconheceu que “Israel tem direito de se defender”, mas afirmou que o limite aceitável de resposta “foi amplamente ultrapassado”, com base na “lei internacional”.
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Economia da Noruega
O chanceler também indicou que, por ser aberta, a economia da Noruega depende da estabilidade e da cooperação internacional. Ou seja, “o comércio, ao clima e ao desenvolvimento sustentável” do país estão atrelados às inconstantes relações entre os países, sujeitas ao efeito implacável da polarização mundial. Ele disse, ainda, que o G20 tem um importante papel no funcionamento do comércio internacional.
“A divisão entre o Norte e o Sul foi altamente reforçada devido à guerra em Gaza. Devemos tentar, em conjunto, ultrapassar esta situação e a percepção de que o Ocidente tem dois pesos e duas medidas. É importante ouvirmos uns aos outros, também em locais mais informais como o G20”, afirmou.
“Um acordo no G20 pode ter um impacto direto no comércio internacional, na economia e no desenvolvimento. Além disso, o aumento da cooperação internacional em matéria fiscal também é importante para superar os paraísos fiscais e a movimentação ilegal de dinheiro, o que deveria beneficiar a sociedade”, acrescentou.
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Sob comando brasileiro
A liderança brasileira faz parte do sistema de presidências rotativas do G20, e dura até novembro deste ano. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou a cargo, então, de receber o importante encontro da cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20, marcado para 8 e 19 de novembro. Até a data, serão cerca de 130 reuniões, parte delas presenciais, distribuídas por 15 cidades do país.
Além do Brasil, compõem o G20 a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.
Brasília estabeleceu três tópicos centrais para o encontro, segundo comunicado do portal do G20 no Brasil:
- Inclusão social e combate à fome e à pobreza;
- Promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus 3 pilares: social, econômico e ambiental;
- Reforma das instituições da governança global.