Conflitos e atos de violência forçaram um número recorde de pessoas a fugir de suas casas em 2021, de acordo com um novo relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno do Conselho Norueguês de Refugiados, publicado na quinta-feira, 19.
Segundo o documento, mais de 14,4 milhões de pessoas precisaram se deslocar internamente no ano passado, um aumento de 4,6 milhões em relação a 2020. A África subsaariana é a região mais afetada, com cerca de 80% – 11,6 milhões – de todo o deslocamento, causado por “enormes picos” de confrontos.
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Segundo Alexandra Bilak, diretora do centro de monitoramento, a concentração geográfica ocorrida no continente é uma grande preocupação.
“São países que viveram longas histórias de conflito, mas o que esses números mostram é que eles estão longe de serem resolvidos. Então, além de crises prolongadas, essas pessoas convivem com ondas de violência todos os anos”, explicou, destacando a Etiópia e Burkina Faso como países com enorme número de deslocamentos.
Ainda de acordo com Bilak, as ondas de violência muitas vezes vêm acompanhadas de pressões climáticas, como secas e inundações, e a subsequente insegurança alimentar, tornando ainda mais difícil para os governos locais fornecerem a ajuda necessária.
“Não há nenhum indício de que haverá algum tipo de estabilização nessas regiões, o que significa que esses números provavelmente irão continuar aumentando”, completou.
Em todos os anos, a principal causa da locomoção são os desastres naturais, com exceção de 2020, que registrou números inferiores em relação a anos anteriores.
Agora, a violência se tornou uma preocupação especial para o centro de monitoramento em 2021. Como o relatório diz respeito apenas ao ano anterior, os números não incluem as consequências humanitárias da invasão russa à Ucrânia, onde estimativas apontam que mais de 7 milhões de pessoas já se deslocaram internamente.
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O único lugar que se aproxima dessa escala é a Etiópia, onde o conflito já provocou cerca de 5,1 milhões de mudanças forçadas. Até a invasão da Ucrânia, esse foi o número mais alto já registrado para um único país em um registro de um ano.
A República Democrática do Congo e o Afeganistão também aparecem como um dos maiores focos de deslocamentos internos, assim como Mianmar, onde o golpe militar fez com que o número triplicasse no leste da Ásia em comparação com 2020.
Com mais da metade da população de refugiados tendo menos de 25 anos, e cerca de 25 milhões com menos de 18 anos, o centro de monitoramento pediu intervenções mais diretas para proteger crianças e adolescentes dos perigos que enfrentam.
“As dificuldades financeiras que esses jovens enfrentam pode servir como porta de entrada para uma série de atividades perigosas para geração de renda como sexo, crime ou até mesmo ingresso em grupos paramilitares”, diz o relatório.