O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, chegou a Brasília nesta segunda-feira, 17, para conversar com seu colega brasileiro, Mauro Vieira.
A previsão de encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Lavrov consta na agenda oficial de Vieira. A agenda de Lula não havia sido divulgada até a noite deste domingo, 16. De acordo com o governo brasileiro, a guerra entre Rússia e Ucrânia deve ser um dos temas da visita do ministro russo.
Lavrov chega no momento em que Lula retorna de uma visita de Estado à China. Ambas as missões fazem parte de um reajuste diplomático que o petista iniciou desde que voltou ao poder este ano, enquanto luta para recuperar a reputação internacional do Brasil após seu antecessor, Jair Bolsonaro, ter manchado a tradição de cooperação do país.
+ Lula diz que relação do Brasil com a China não causa ‘arranhão’ com os EUA
Para o Brasil, isso significa reconstruir e manter os laços com todos os parceiros, independentemente das tensões geopolíticas em outros lugares. Também é uma abordagem pragmática: os principais parceiros comerciais do Brasil são a China e os Estados Unidos, enquanto depende muito da Rússia para importar fertilizantes.
Mas Lula também tem objetivos de política externa mais ambiciosos e até aspira que o Brasil desempenhe um papel de mediador da paz no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
+ Brasil e China se comprometem a ‘fortalecer comércio em moedas locais’
O presidente sugeriu a ideia de um “clube da paz” de países neutros a vários líderes estrangeiros, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e, durante sua viagem a Pequim na semana passada, Xi Jinping.
Além disso, ele enviou seu assessor especial (e guru de política externa), Celso Amorim, para discutir as perspectivas de paz com o presidente russo, Vladimir Putin, em uma viagem discreta a Moscou no final de março.
+ Com viagem à China em vista, o que esperar do Itamaraty sob Lula?
Gestos como esses e a visita de Lavrov – parte de uma turnê latino-americana que o levará a Venezuela, Cuba e Nicarágua, bastiões do antiamericanismo – não caem bem com Washington.
Embora o Brasil tenha votado para condenar a invasão russa nas Nações Unidas em março, Lula sempre foi ambivalente sobre o conflito. Recentemente, ele sugeriu que a Ucrânia deveria considerar abrir mão da Crimeia para concretizar um acordo de paz e, em uma coletiva de imprensa no sábado 15, disse que os Estados Unidos e a Europa prolongam e encorajam a guerra na Ucrânia.
+ “Saímos de cima do muro”, diz novo chanceler Mauro Vieira sobre guerra
No Brasil, a abordagem da guerra na Ucrânia é vista como parte de uma longa tradição de neutralidade da política externa. Em um mundo altamente polarizado e muito diferente do que era nos dois primeiros mandatos de Lula, contudo, ser imparcial tem um preço cada vez mais alto.