Michigan: Biden vence prévias, mas é punido por postura sobre Gaza
Campanha de eleitores democratas deu 13,2% votos à opção 'descomprometido', como forma de se opor ao apoio dos EUA ao governo israelense
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, venceu nesta terça-feira, 27, as primárias no Michigan. Embora não tenha enfrentado um adversário real na disputa dentro do Partido Democrata, o chefe da Casa Branca foi alvo de uma campanha de ativistas contrários a guerra entre Israel e Hamas – apoiada pelo governo americano, que pressiona a Câmara a aprovar um pacote de US$ 14 bilhões em ajuda ao país – para que eleitores escolhessem a opção “uncommitted” (algo como “descomprometido”, em português) nas urnas, de forma a enfraquecer o apoio a Biden.
No Michigan, é possível escolher um dos candidatos listados ou preencher a opção “descomprometido”. Ao optar por ela, os eleitores mandam um recado ao líder dos Estados Unidos de que não estão convencidos por sua candidatura, apenas estão exercendo um voto partidário. E a mensagem formou coro: uma contagem da Edison Research mostra que 13,2% assinalaram a opção. Ao todo, seriam mais de 100 mil votos nesta modalidade.
Foi resultado de uma campanha chamada Listen to Michigan, lançada neste mês. O porta-voz da iniciativa, Abbas Alawieh, antes de comemorar o sucesso da iniciativa, pediu um minuto de silêncio “por cada vida humana que nos foi tirada demasiado cedo, usando impostos dos contribuintes dos Estados Unidos e bombas”. Em seguida, Layla Elabed, à frente da ação, agradeceu às organizações locais aos eleitores por terem votado “contra a guerra, o genocídio e a destruição de um povo e de uma terra”.
No início da guerra, em 7 de outubro, Biden estendeu apoio “sólido e inabalável” ao governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Em meio à crescente violência nas operações na Faixa de Gaza, o democrata mudou o discurso. Em dezembro, condenou os bombardeios “indiscriminados” e disse que a administração do premiê estava “tornando tudo muito difícil”. Em fevereiro, ele subiu o tom e afirmou que a reação israelense havia sido “exagerada” e defendeu uma “pausa sustentada” das hostilidades para permitir a libertação de reféns e a entrada de ajuda humanitária no enclave palestino, que soma mais de 29 mil civis mortos desde a eclosão do conflito.
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Há implicações reais?
Em 2012, o ex-presidente Barack Obama, do qual Biden foi vice, recebeu 21 mil votos “descomprometidos” nas primárias do estado, mais de 9% dos eleitores. Quatro anos depois, Trump venceu por pouco no estado, por apenas 11 mil votos. Os organizadores da campanha argumentam, então, que o bloco é influente por ter superado a margem de vitória do republicano.
A campanha deste ano torna-se ainda mais significativa devido à grande população árabe-americana do Michigan, que foram importantes apoiadores de Biden em 2020. Ainda não está claro, no entanto, se o abandono ao chefe de Washington se repetirá nas eleições gerais de novembro.
Ao que tudo indica, o cenário de quatro anos atrás será repetido, com Biden e Trump em um embate ferrenho pelo comando da Casa Branca. Em campanha, o republicano já prometeu banir a entrada de muçulmanos no país – por isso, mesmo com as críticas a Biden, a eleição deve culminar no provável apoio ao democrata, mesmo que a contragosto.